07 setembro 2006

Diz-me com quem andas...

O PCP (ou será CDU? nunca sei...) andou de braço dado com as FARC na festa do Avante. Tal perceria tem suscitado o espanto e o vivo repúdio de várias vozes, que iradamente se levantam em protesto.
Não vejo, em bom rigor, causa para tanto espanto. O PCP simpatiza com a causa das FARC? Decerto que sim, pois as FARC pretendem alterar a ordem estabelecida na Colômbia, pela via revolucionária, ao arrepio do processo democrático e impor uma ditadura do proletariado ou algo parecido. Claro que simpatiza! O PCP, contra toda a evidência e todo o decoro, nega o carácter terrorista das FARC, ao arrepio do consenso largamente generalizado na comunidade internacional? Não surpreende: apenas se pauta pela mais pura ortodoxia marxista-leninista, que eleva as FARC à categoria de "organização popular armada que luta por uma mais justa redistribuição de terras"; que remete o Estado colombiano, sem apelo nem agravo, para a categoria das estruturas burguesas que oprimem o proletariado e o campesinato latino-americano, em subserviência aos ditames do imperialismo dos EUA. Porventura isto é menos bizarro do que sugerir que Coreia do Norte possa ser uma democracia?
Mas é aqui que o leitor, homem do século XXI, pouco afeito ao arrazoado comunista e sem perceber o porquê de tanta condescendência, me interrompe, impaciente: «Mas as FARC, por muito louváveis que sejam os seus fins, socorrem-se de métodos terroristas! Sim, sim! Homicídios, extorsão, raptos em larga escala... Mais ainda, financiam-se com um imposto que cobram sobre a produção da coca. E então? Isto é compreensível?»
Pois decerto que sim, caro leitor. Não esqueçamos que o PCP, além de ser virtualmente o único partido no mundo a abraçar o marxismo-leninismo, é certamente o único que não condenou os crimes assacados ao defunto bloco comunista. A saber: a perseguição, tortura e massacre de opositores ao regime soviético, a colectivização forçada, as purgas estalinistas, o massacre de Kattyn, a invasão do Afeganistão pela URSS, a ocupação do Tibete pela China, os goulags e outros campos de concentração, a invasão da Hungria em 1956 e da Checoslováquia em 1958, a repressão da oposição na Polónia, os crimes de Pol Pot, as deportações em massa, os fuzilamentos dos trânsfugas em Berlim Oriental, etc, etc, etc. Perante esta lista de horrores, que o PCP nunca condenou de forma expressa, integral e inquestionável, vai o caro leitor pretender que virem as costas às FARC e não as convidem para a festa do Avante?

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