21 outubro 2006

A propósito de cultura em Portugal…

Sei bem que a discussão já está um pouco fora de época. Mas, agora que já serenaram os ânimos em redor do acordo celebrado entre o Estado português e Joe Berardo, vem de molde recordar alguns FACTOS. Nem é tarefa para muita monta; basta relancear os olhos pelo Decreto-Lei n.º 164/2006, de 9 de Agosto, que cria a Fundação Colecção Berardo. Está lá tudo.


A Fundação é uma entidade distinta dos seus instituidores originários (que são o Estado e Joe Berardo) e é constituída por tempo indeterminado.


A Fundação recebe de empréstimo a Colecção Berardo e fica instalada no centro de exposições do CCB.


O Estado assegura as despesas de funcionamento da Fundação.


As receitas revertem a favor da Fundação (e não de Joe Berardo).


O Estado e Joe Berardo efectuam, cada um, dotações iniciais de €500.000 e dotações anuais de idêntico montante, para um fundo de aquisição de obras de arte para a Fundação (de 2007 a 2015). Isto é, €1.000.000 por ano, durante 8 anos, para a compra de obras de arte para a Fundação (e não para a Colecção Berardo).


Em caso de dissolução da Fundação, esse fundo de aquisição e essas obras de arte revertem para o Estado (com opção de compra a favor de Joe Berardo).


O Estado fica com uma opção de compra da Colecção Berardo, a exercer entre 1JAN2007 e 31DEZ2016.

Perante estes FACTOS, que saltam à vista de quem se dê ao trabalho de ler o decreto-lei, podemos, de boa-fé, dizer que o Estado tenha feito mau negócio? Quanto gastaria o Estado para constituir, de raiz, uma colecção de idêntica importância, no CCB ou em outro museu qualquer? Que actividade cultural conseguiria desenvolver o CCB no centro de exposições que se comparasse à exposição permanente da Colecção Berardo? Digam-me...

2 comentários:

Diogo Ribeiro Santos disse...

Não sei, car PBH, mas não deve andar longe da média de visitantes dos demais museus e monumentos de Sintra (Palácios da Vila e da Pena, Museu do Brinquedo, etc). Serão muitos? Não sei...
Já agora: quantas pessoas visitaram seja lá o que for que existia ou existe no centro de exposições do CCB, esse monumento ao despesismo e ao dinheiro mal gasto?

Diogo Ribeiro Santos disse...

Talvez não deixe de ser, porque os milhões que custou construir aquele monstro dentro da área de protecção do Mosteiro dos Jerónimos dificilmente serão recuperados.
Quanto ao dinheiro que o Estado vai gastar, sejamos rigorosos: o Estado vai assegurar as despesas de funcionamento da nova Fundação Colecção Berardo, tal como já assegura as do CCB (não acredito que o CCB gere receitas que cubram as suas despesas). Não sei se não fica ela por ela...
O restante investimento público destina-se a reunir um acervo de arte moderna, o que é diferente de «instalar lá a Colecção Berardo».