23 outubro 2006

Viva a Liberdade!


Há 50 anos houve revolução na Hungria... ou quase! A revolução, nascida a 23 de Outubro, foi esmagada pela pronta e eficaz intervenção das tropas soviéticas, a 4 de Novembro. Com um só golpe, a Rússia Soviética cerceava as veleidades reformistas e autonomias dos magiares, dos quais fez exemplo para os demais povos submetidos à sua hegemonia, e demonstrou ao resto do Mundo quem mandava no bloco soviético e na Europa de Leste em particular. O "resto do Mundo", ocupado com a disparatada intervenção anglo-francesa no Suez (uma entente cordiale et fort peu rationale), nada fez.
No fundo, tratou-se de uma situação inúmeras vezes repetida ao longo da história: uma potência hegemónica a pôr ordem na casa. Claro que, como todas as grandes tiranias, a Rússia Soviética tinha os seus lacaios prestes a disparar as mais fantásticas e descompassadas justificações para o feito praticado, prontos a fornecer um argumentário veemente, assente em uma férrea e inatacável ortodoxia, que recriasse os factos à luz da verdade marxista-leninista.
Um dos lacaios de serviço foi o Partido Comunista Português, que se esmerou com um documento intitulado «A Reacção Mundial Lança a Confusão Sobre a Hungria!». O sobredito documento, verdadeiro tesouro do servilismo e da manipulação ideológica, é rico em pérolas como esta: «A intervenção das Forças Armadas soviéticas [...] ajudou o povo húngaro a salvaguardar as suas conquistas históricas e socialistas. Os trabalhadores do mundo inteiro acusariam a União Soviética se não tivesse correspondido aos apelos do povo húngaro para o ajudar a derrubar os contra-revolucionários armados pela reacção fascista». Primoroso, não é?
Concluo com dois pedidos, dois simples pedidos.
1º Alguém me ajuda a encontrar um documento, datado entre 1956 e o dia de hoje, em que o PCP condene, expressamente e sem reservas, a intervenção soviética na Hungria?
2º Alguém sabe dizer-me se os jovens comunistas, quando se juntam na Festa do Avante para beber à saúde da revolução popular e da luta contra a opressão, quando choram as vítimas do imperialismo americano, também se lembram daqueles jovens, e de todos os outros húngaros, homens, mulheres e crianças, chacinados pelas forças soviéticas?

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