Na próxima 6ª feira, dia 30 de Novembro, ocorre uma greve geral promovida pelos sindicatos portugueses. Mais uma. Mais do mesmo. Acredito que assim será. Estou certo disso. E não tive de enviar agentes da autoridade a sedes sindicais para controlar a situação e a informação. Assim tem sido. Não será certamente diferente agora. A começar pelos dirigentes sindicais que são os mesmos há anos a fio. As mesmas caras, as mesmas estratégias (ou ausência delas), as mesmas reivindicações (poderia ser um sinal que o poder político continua sem dar as devidas respostas aos problemas mas tal seria uma explicação demasiado redutora, não completamente falsa, mas redutora).
É vulgar afirmar-se que o Mundo está em mudança. E está mesmo. Mudanças sempre houve ao longo da História da Humanidade, umas mais profundas do que outras, umas mais radicais do que outras, umas mais lentas, outras mais rápidas, mas os conceitos de continuidade e de ruptura fazem parte da própria essência da História. Agora os ritmos é que são mais acelerados do que nunca. Mudanças, como referi, sempre houve, mas nunca tão rápidas e a esta velocidade vertiginosa. Assim acontece com o universo laboral.
Já não faz qualquer sentido um sindicalismo com a configuração actual. Acções sindicais baseadas nas greves e não na via negocial. Deveriam evitar a todo o custo a visão maniqueísta (os patrões os maus e os trabalhadores os bons claro....) que muitas vezes inviabiliza logo de início qualquer crescimento da margem de negociação. Partem do princípio que o patronato é um bando desqualificado de exploradores das classes trabalhadores (o que em alguns casos não andará longe da verdade dos factos). Colocam-se numa posição de ter direito a tudo e mais alguma coisa mas em termos de deveres o prato da balança já não possui tanto peso, até parece que deveria ficar vazio segundo algumas opiniões...
Um sindicalista tradicionalista (parece contradição mas a esmagadora maioria é de facto tradicionalista) acredita que a tradição sindical ainda é o que era e assim deve continuar a ser. Não há verdadeiras negociações. Eles que são os maus só nos querem explorar, tramar e dificultar a vida, não vamos conseguir nada deles por isso partimos para a greve e mais nada!Poderia ser uma frase saída de uma reunião no sindicato (digo eu, embora nunca tenha participado em nenhuma...também seria difícil pois não estou sindicalizado e não me parece que venha a estar nos próximos tempos). Por isso a greve surge com facilidade e não como recurso extremo. O sentar à mesa das negociações é só uma formalidade que têm de cumprir. O barulho nas ruas, a confusão, os constrangimentos causados aos cidadãos em geral, o contributo para os baixos índices de produtividade parece ser a forma de luta de eleição. "Barulho não é argumento" diz muitas vezes o sr. primeiro-ministro no Parlamento. Tenho de reconhecer que tem razão.
Empregadores e empregados, patronato e trabalhadores, cada um tem o seu papel nos meios económico e social. Uma instituição, uma empresa só existe e só terá sucesso com uma boa articulação e o melhor entendimento possível entre as partes que compõem o todo. Se alguma peça da engrenagem falha toda a máquina pára ou funcionará de forma deficiente. Para que isso não suceda negociar deve ser o mote. Sem ruído, sem radicalismos, sem exigências desequilibradas e desajustadas das realidades contemporâneas, sem utopias desmesuradas. Com elevação, com educação, com pragmatismo, com inconformismo e espírito crítico mas também com a consciência plena do mundo actual, das suas exigências e limitações. Humanismo e Economia não devem e não podem ser inimigos. Muito pelo contrário, devem ser os melhores aliados. Há tradições que não podem continuar a ser o que têm sido.
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4 comentários:
-Para o reforço da tradição, mais uma greve á 6ª feira, ainda para mais sendo sábado feriado, algo que não atinge todos os portugueses, mas sempre contempla alguns.
Estou de acordo com o post que faz uma leitura da realidade actual dos sindicatos que teimam em não acompanhar a evolução , e apanho também a boleia do António Almeida que friza a falta de credibilidade dos sindicatos ao marcarem cerca de 95% das greves para as Sextas Feiras ou Segundas ou ainda quando as greves proporcionam belissimas pontes , não acredito neste sindicalismo.
JOY
Estará mesmo o Mundo em mudança?
Na verdade haverá seguramente uma mudança, mas no sentido de um aprofundamento continuo ano após ano, de há décadas para cá. Não há mudanças de ruptura, mas “mudanças” de amplitude, de volume, de quantidade e não de qualidade. Em termos de qualidade o mundo estará igual há dezenas de anos. A única mudança é a concentração da propriedade, do capital, que se acentua e a que agora se chama globalização, quando há mais de um século se chamava imperialismo.
Isto é relatado num recente documento da EU que afirma “a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta”.
Os conflitos do trabalho continuam os mesmos de sempre, porque não existiram alterações nas relações sociais de trabalho entre patrão e trabalhador. E a forma de luta superior é como foi sempre, a greve.
É certo que os nossos sindicalistas continuam os mesmos como os nossos políticos, a nossa classe politica continua a mesma, sem renovação, mas isso pouco acrescenta à questão.
Agradeço os três comentários.
Ao Ruy tenho de dizer que não posso concordar com a linha do seu comentário. O mundo está claramente em mudança, sem exagero desde a sua "criação" e o Homem desde que é Homem. São inenerentes à própria evolução da Homem, enquando indivíduo e ser cultural e social, os conceitos de ruptura e continuidade. Em qualquer época da sua História. Se quisermos extremar exemplos recuamos no tempo até às sociedades de caçadores recolectores e avançamos novamente até à época da sociedadade da informação e da globalização (não é a sucessora do imperialismo como refere.
Apesar das diferenças abissais e de uma série de rupturas facilmente constatáveis há elementos perenes e de continuidade. Mas não é necessário recuar tanto no tempo. Quer em termos de "quantidade" quer de "qualidade" muita coisa no mundo está diferente, mesmo tendo em conta períodos tão recentes como 20 ou 30 anos atrás, que devidamente enquadrados na já vasta História da Humanidade muito pouco representam, mas são efectivamente mudanças (umas para melhor e outras para pior...).
Nas relações laborais (e assim devem ser encaradas mais do que um conflito permanente)muita coisa mudou igualmente. Muita mas não tudo... Os sindicatos continuam na mesma, sem a necessária actualização e adaptação ao mundo actual, aos problemas e desafios contemporâneos. Insistem na visão marxista de exploradores e explorados e de que os detentores do capital ("a burguesia") são perigosos inimigos dos trabalhadores("o proletariado" e o "campesinato") que a tudo têm direito e que devem ser principescamente recompensados por essa opressão. O universo laboral não é uma zona de batalha entre patrões e trabalhadores. É um palco onde há "actores", onde cada um tem o seu papel a desempenhar para que o resultado final seja o melhor possível para todos (incluindo naturalmente os "espectadores", isto é, os cidadãos/contribuintes/consumidores/clientes). E quando há assuntos a resolver e problemas a solucionar o mais sensato, adequado e profícuo será uma aposta clara na via negocial e não na greve, que não vejo o que tem particularmente de superior...Quando o problema, quando o entrave ao sucesso da peça em cena está num dos actores (ou eventualmente em todos) a qualidade desse actores acrescenta muito à questão, e está longe de ser irrelevante, muito pelo contrário, tudo tem de decisivo. É arranjar representantes dos grupos profissionais actualizados e sensatos e grupos de patronato com idênticas características e vai ver que a qualidade do "teatro" melhora em proveito de todos!
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