Valem o que valem, certo? São pistas, indicadores, dados, que devem ser interpretados e analisados em um contexto mais vasto. Certo? Forço-me a pensar nestes termos enquanto vou digerindo as notícias sobre o crescimento da economia portuguesa (1,8% em 2007) e a captação de investimento directo estrangeiro em Portugal (aumentou 9,5% face a 2006).
O primeiro número é conseguido contra um clima de recessão e contra as previsões das instâncias internacionais (FMI e OCDE) e da União Europeia (passe a beliscadela no rigor, mas como eurofederalista convicto, não me resigno a designar a UE como mera organização internacional). E está em linha com as previsões do Governo e do Banco de Portugal.
Não nos enganemos. Crescer 1,8% ao ano não é, em absoluto, o melhor resultado possível. Mas, crescer 1,8% é a nossa melhor marca desde 2001 e é conseguida em contexto económico desfavorável: euro forte, crise dos mercados financeiros, concorrência muito forte no mercado do produto, abrandamento do crescimento económico na Europa. Estes 1,8% divergem da média europeia? Decerto que sim. Mas, caminham para a convergência a curto/médio prazo? Parece que sim.
O segundo número, que leio lado a lado com o primeiro, é sinal de que alguém anda a trabalhar bem (nomeadamente, Basílio Horta e a sua AICEP).
1,8 e 9,5% são apenas mil passos, tais como os mil passos a caminho da sociedade da informação, a que aludo no post anterior (já que falo nisso, o título do post foi gentilmente cedido por Alberto Caeiro). Mas, serão mil passos na direcção certa? Espero que sim.
27 comentários:
Certamente que sim! Nao haja dúvidas, este é o rumo certo! Finalmente!
Pergunto-me é onde é que andava este gazeteiro que tanta falta tem feito para contrabalançar o teor sempre monótono dos posts políticos deste blog. Muito benvindo (de volta parece) e espero que seja para ficar!
Caro DRS
Peço desculpa por vir ao seu post fazer uma correcção ortográfica ao comentador que me antecede, mas não resisto, visto atentar que não é seguramente um erro por distracção nem devido a deficiências no teclado do computador, sobretudo porque é um erro mais frequente do que se julga.
Benvindo é nome próprio.
Bem-vindo é um adjectivo que pode ser também uma interjeição.
Caro DRS
Serão os passos na direccção certa? Tudo indica que sim. Neste furor do petróleo, da energia, da informação e da velocidade que caracteriza a nossa Era, crescer é a palavra de ordem. O importante é crescer, crescer sempre...
Crescer, gastar, não gastar, não crescer, aumentar, diminuir, poupar, investir, dividir, parar, multiplicar, consumir; eis o léxico da contemporaneidade.
Lembra-se da Luisa da Calçada de Carriche? Aquela do António Gedeão?
Pois é! Foram mais de mil os seus passos que a levaram sempre à mesma calçada.
Mas números?
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.
Devo pedir ao meu caro PBH que medite na interpretação que pretende arvorar em regra linguística. Sucede que "benvindo", "benfazejo", "benquisto" ou "benquerença" e "bendito" são meras aglutinações de palavras que se formaram por justaposição. Ou seja, a sua genealogia remonta a "bem-vindo", "bem-fazejo", "bem-quisto", "bem-querença" e "bem-dito". Tratando-se de variações ortográficas da mesma palvra, nenhuma razão válida existe para preferir uma a outra, nem para lhes atribuir significados diferentes consoante a maior antiguidade ou modernidade da grafia.
Aliás, a ser como o meu caro amigo propugna, o correcto seria sempre dizer "bem-dito sejas!" ao invés de "bendito sejas!", quando, na realidade, nada aponta para que deva ser assim.
Só o meu caro PBH para conseguir trazer alguma poesia a estas frias e áridas matérias do crescimento económico.
Acho-lhe muita razão na bela frase «Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual». Mas é mesmo por isso que os números, conquanto meras abstracções, ganham importância: por serem objectivos, por servirem de referência, neste mundo globalizado, de referências cada vez mais efémeras e onde tudo é transitório...
A Luísa, que tão resignadamente calcorreia a calçada, é uma heroína do quotidiano. Aqueles abstractos 1,8% em 2007 só se alcançaram com os mil passos da Luísa. Ela caminha com um objectivo e vai alcançá-lo e ESTÁ a alcançá-lo. Não queira o meu querido amigo acorrentar-lhe os passos à Calçada de Carriche. Não a figure como um Sísifo desencantado que eternamente empurra a pedra até ao topo do penhasco para, incessantemente, a ver despenhar-se até ao sopé da montanha. Il faut imaginer Sisyphe heureux.
Caro DRS
É interessante a analogia que faz entre o meu comentário e o Sísifo na versão de Camus.
Na verdade, tal como a personagem de Alberto Caeiro, também Sísifo é cego. Il faut imaginer Sisyphe heureux? Bien sur, mais seulement parce qu'il est aveugle.
Ainda que a cegueira salve Sísifo do seu destino suicida,isso em nada altera o seu epíteto de «homem absurdo».
Camus estava bem ciente desta realidade ao recuperar o antigo mito, e foi com base nisso mesmo que concluiu que Sísifo é o herói absurdo definitivo.
Eu não acorrento Luisa à calçada. São os seus números que a acorrentam; os seus números, e o destino dela.
O cego continua o seu caminho...
Il faut imaginer Sisyphe heureux?
Bien sur...
Caro DRS
Meditei, tal como me pediu, no seu comentário linguistico, e não consigo arranjar-lhe razão.
Bem-vindo é a fórmula correcta de utilização do adjectivo. Não existe Benvindo enquanto adjectivo. Bem-vindo não é raíz «genealógica» de nada a não ser do nome próprio Benvindo.
Quanto a Bendito e Bem-dito, estamos a falar de palavras com significações diferentes.
Bendito é sinónimo de abençoado e a sua origem está em benedictus.
Já Bem-dito, é uma interjeição que se usa para valorizar palavras ditas com elequencia ou virtude.
O "Luísa sobe a calçada" foi há uns tempos extraordinariamente dito ou interpretado (como queiram) por Odete Santos.
Parece-me que nestes últimos tempos deve ter sido bastante repetido algures na Soeiro Pereira Gomes... A Luísa é que é outra, a calçada a escadaria de S. Bento e o verbo o oposto do poema.
"Bem-vindo" é a fórmula correcta? "Benvindo" não existe como adjectivo? Porquê? Porque sim? Lamento, mas não basta.
Quanto às dúvidas que suscita, assevero ao meu caro amigo que uma breve consulta ao Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, é bastante para as dissipar. Diz-lhe este Autor, louvando-se no polidíssimo Fernão Mendes Pinto, que "Bendito" é «a forma exacta, em vez de bem-dito».
Já agora, não vai daqui sem saber que "bem-dito" e "bendito" têm como raiz etimológica... "bene dictum", tal como "bem-vindo" e "benvindo" têm a sua em "bene ventum"!
Não consigo lobrigar a que fonte foi o meu caro PBH colher notícia de que Sísifo fosse cego. Certamente que o não leu em Homero, e menos ainda em Camus. «Sisyphe regarde alors la pierre dévaler en quelques instants dans ce monde inférieur d'où il faudra la remonter vers les sommets». Camus quer Sísifo auto-consciente; para quê cegá-lo?
De resto, Le Mythe de Sysiphe tem significação oposta à que lhe empresta o meu caro amigo. Sísifo é a Luísa auto-consciente do seu destino trágico e, portanto, mais forte do que a calçada que deve subir e descer incessantemente. «A chacun de ses instants, où il quite les sommets et s'enfonce peu à peu vers les taniéres des dieux, il est supérieur à son destin. Il est plus fort que son rocher».
Quanto aos meus números, eles não acorrentam, apenas exprimem a realidade. O Homem é senhor do seu destino.
Meu caro Diogo RS
Afirmar que Sísifo é cego, assim como o cego de Alberto Caeiro é uma metáfora. Não queira fazer uma leitura tão literal das minhas palavras.
Caeiro considerava que «o aqui e o agora» são a única realidade. Há uma relação entre a realidade e a impermanência que só quem é «cego» não vê.
Que é o Homem sem horizonte? sem esperança?
O que é a esperança senão a possibilidade de uma transformação?
O «cego» tende a não querer ver, tal como o Sísifo de Camus. Ele era consciente, ou pelo menos assim o pretendia Camus, mas era precisamente esse estado de consciência cega que tornava a sua existência absurda. Há qualquer coisa de orgulho resignado na permanência de um destino que se sabe absurdo mas que não se quer alterar.
A questão mais interessante parece nascer da interrogação em que momentos é o cego consciente da sua cegueira, e que motivo maior o impede de alterar o seu destino.
Sísifo é a Luisa auto-consciente, pois sim, mas é exactamente por isso que é mais absurdo.
Mas não façamos desta dissertação mais mil passos a caminho de um destino inútil.
Os números em que o meu amigo vê a realidade, eu apenas vislumbro uma parte da realidade, e devo dizer até que a considero a parte menos interessante do todo que me é dado ver.
Mas devo dizer que compreendo a posição. Ela está de acordo com a imagem e com o léxico da contemporaneidade.
Il faut imaginer Sisyphe heureux!
Já se lia no Sermão da Montanha:
- Felizes os pobres de Espírito porque deles é o Reino dos Céus!
"Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança." José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira)
Caro Diogo RS
Benvindo não existe enquanto adjectivo.É um erro. Se me souber revelar a fonte da sua gramática ou do seu dicionário terei o gosto e a humildade de aprender consigo.
E não tenho a veleidade de dizê-lo «porque sim», mas porque assim o ensinam os manuais da Língua Portuguesa.
Quanto à sua referência ao Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, que não é tão novo assim, falta conhecer em que contexto afirma o autor, que Bendito é a forma correcta, ao invés de Bem-dito. Se o adjectivo se aplicar à beatitude ou virtude de alguém, então a forma está correctíssima.Se pelo contrário a ideia é exprimir uma interjeição , então a forma é incorrecta, mesmo que tenha sido escrita por Fernão Mendes Pinto.
Quanto à origem etimológica das palavras referidas, o meu amigo não vai daqui sem perceber que bendito e bem-dito têm origens diferentes. Se bendito tem origem em benedictu-, significando abençoado, louvado,feliz; já bem-dito tem origem em duas palavras distintas: em bem e em dizer, e é da conjugação destas duas palavras ou ideias que em português nasce a expressão bem-dito aplicando-se à forma louvável ou virtuosa de tomar a palavra.
Quanto a bem-vindo a sua origem é de facto bene ventum, que, tal como em latim, são duas palavras separadas em português, formando uma interjeição pela introdução de um hífen. A raíz do nome próprio Benvindo tem origem na expressão bem-vindo e tem, naturalmente, a mesma origem etimológica.
Parece que o cego fui eu: não vi a metáfora, meu caro PBH.
Caro rm,
A citação vem duplamente a propósito: sobre contribuir para a discussão, traz à memória que Saramago escreveu a obra-prima que é o "Ensaio..." a partir de um tema já tratado por Camus em "La peste" (outra obra-prima, por sinal).
Caro PBH,
A minha gramática e o meu dicionário, para este efeito, são o raciocínio que desenvolvi nos comentários que se encontram às cavaleiras deste e que me dispenso de reproduzir. Procurei dar-lhe construção sólida e alicerçá-lo no saber do autor da "Peregrinação" e de Cândido de Figueiredo.
Já o meu caro amigo pretende impugnar estes autores lançando mão de uns hipotéticos e misteriosos "manuais da Língua Portuguesa". Por acaso, tenho imensa curiosidade em conhecer um que seja de tais manuais, mesmo que esse conhecimento se limite ao título, ao nome do autor e à passagem em que o PBH se louva para afirmar a radical oposição entre "bendito" e "bem-dito". Seria muita maçada pedir-lhe, meu caro PBH, para me saciar a curiosidade?
Quanto à origem destas palavras, quer o meu amigo tomar nota? Ora bem. "Benedictum" não é mais que "bene" + "dictum", que é o particípio de "dicere", "dizer". Agora, o mais cómico. Adivinha o meu bom amigo que duas palavras latinas estão na origem de "bem-dito"? Pois é. São mesmo "bene" e "dictum".
Para terminar, sugiro ao PBH que consulte a entrada "Bem-dito" da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Poderá ler que significa «louvado, glorificado, abençoado, feliz», sentido ilustrado no seguinte trecho do Padre António Vieira: «todos devemos o parabém à Soberana Mãe de tais filhos e aos bem-ditos filhos de tal Mãe». Vieira também é colega de erros de Fernão Mendes Pinto ou escreveu bem?
Compreendo que não tenha visto, espero, contudo, que tenha compreendido.
Justamente caro DRS. Eu também considerei que a citação era benvinda, ou até, neste caso, bendita, ainda para mais, se nos recordarmos de que este foi um livro publicado no glorioso ano de 1995.
Caro Diogo RS
Com agrado lhe indico os manuais em que investiguei as matérias desta polémica:
- Grande Dicionário de Língua Portuguesa, com cooordenação de José Pedro Machado, Edições Alfa, Lisboa 1991
Entradas: Bem-vindo / Bendito / Bento/ Bem-dito
- Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, do Instituto António Houaiss de Lexicografia Portugal, Lisboa 2002
Entradas: Bendito / Bendizer / Ben (a) /Benedictus / Bento
- Dicionáro de Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa 2001
Entradas: Bendito / Bem-vindo
Em nenhum dos três dicionários aparece a palavra Benvindo, nem mesmo referenciada como nome.
Quanto ao exemplo que deu expresso por Cândido de Figueiredo, gostava de saber o contexto em que foi dito por forma a não restarem dúvidas quanto à sua utilização.
Quanto à origem que o meu amigo dá para a palavra «benedictum», de facto nada tem de cómico, está, aliás, muito certa. Esquece-se contudo de que a sua adaptação, ou se preferir evolução, para o português moderno se faz para bendito no sentido de abençoado, louvado etc..
Ainda que «bem» e «dizer» tenham origem etimológica em «bene» e «dico» a sua conjugação em bem-dito tem sentido diverso de bendito.
Enquanto a primeira tem como significado louvar aquele que «diz boas palavras», a segunda prende-se com a ideia «de quem se diz bem, que é louvado».
António Vieira escreveu sempre bem!
Se atentar, no entanto, para o exemplo que deu, facilmente compreende que o sentido que Vieira dá à palavra bem-ditos é exactamente o de «benditos», ou mais precisamente neste caso, ditosos!
Vieira seguramente não quereria dizer que os filhos de tal Mãe diziam coisas bonitas!
Se Vieira escreveu «bem-ditos» é porque, seguramente, deve tratar-se de uma forma antiga de escrever a palavra, ou pode até mesmo considerar-se uma variante para a época, o que em nada se deve estranhar. Em última análise pode até ser um erro, afinal nem mesmo Vieira, apesar de bendito, é infalível!
Fez-se luz! Afinal, os tão apregoados "manuais da Língua Portuguesa" eram tão-somente dicionários! Quando pomposamente afirmou «assim o ensinam os manuais da Língua Portuguesa», queria apenas dizer «fui ver ao dicionário».
Foi uma longa caminhada, que serviu para concluir que "bem-dito" nada tem que ver com a forma virtuosa de usar a palavra. Quando se quer afirmar que algo foi bem dito, dizemos "bem dito". Sem hífen, uma vez que se trata de uma locução e não de uma palavra.
Se, muito pelo contrário, queremos dizer que alguém foi abençoado, podemos dizer que foi "bendito" ou podemos socorrer-nos de um arcaísmo e dizer, tal como Vieira, que foi "bem-dito". E isto porquê? Porque são sinónimos; trata-se trata da mesma palavra, com grafias diferentes.
Finalmente, acalmo as ânsias do meu caro amigo replicando aqui, não uma, mas três entradas do Dicionário de Cândido de Figueiredo.
Ei-las:
"Bem-dito", m. Canto religioso, que principia por esta palavra. Adj. Abençoado; feliz: bem-dito sejas. (Por bendito, do latim benedictus).
"Bem-dizer", v. t. Dizer bem de. Glorificar. Abençoar; louvar. (De bem+dizer).
"Bendito", adj. (Forma exacta, em vez de bem-dito. Cf. Peregrinação, 299 e 335).
Satisfeito?
Já agora, se lhe aprazem os excursos etimológicos, sugiro-lhe que pense em benevolente, benemérito, beneplácito, benefício, ou mesmo no apelido Benevides. Em todos eles encontrará a combinação já nossa conhecida: "bene" + verbo.
Caro Diogo RS
Que pretende com o seu último comentário? Ser teimoso?
Os manuais de Lígua Portuguesa são dicionários sim. Não compreendo o espanto! O seu não é um dicionário? De onde nos traz então os seus exemplos?
É seu intento baralhar e dar de novo?
Bem -dito, apesar do seu Cândido de Figueiredo, é diferente de bendito. Têm origem na mesma raiz, mas têm significados distintos e utilizam-se de forma distinta. Vieira também os utilizou de forma distinta.
Quanto a benvindo, ainda estou à espera do seu exemplo, nem que seja o de Cândido de Figueiredo, visto que apenas o meu amigo e alguns comentadores anónimos afirmam que tal adjectivo existe.
A mim não me basta que, com base do dicionário o meu amigo me diga que o autor retirou a expressão da Peregrinação, porque mais importante do que isso é saber o contexto em que foi dito. É o contexto e não a forma que faz a diferença. Mais ainda, tenho dúvidas de se Cândido de Figueiredo não fez essa ressalva, afirmando que bendito é a forma correcta em vez de bem-dito, exactamente por Fernão Mendes Pinto ter utilizado erradamente a expressão em determinado contexto, mas isso só saberemos se conhecermos os termos exactos em que foi utilizada a expressão.
Quanto aos exemplos que nos traz, da combinação de «bene» + verbos eles não são novidade e nada trazem de novo àquilo que aqui se discute.
Caro PBH,
Começo a convencer-me de que sou realmente teimoso... e burro! Sim, burro, por continuar a discutir com alguém que consegue afirmar, impávido e sereno, que "bem-dito" e "bendito" são diferentes, mas "manuais" e "dicionários" são iguais"!
Até à data, já demonstrei ao meu caro amigo que Fernão Mendes Pinto e António Vieira, dois cultores maiores das letras pátrias, utilizaram aquelas expressões em sinonímia. E que Cândido de Figueiredo, o mais insigne dos nossos dicionaristas, sublinha o acerto desse uso. Ora, se continuamos na mesma, o PBH e eu, após a demonstração feita; se o PBH prefere dizer que Fernão Mendes escreveu mal, que Vieira escreveu coisa diversa, e que Cândido de Figueiredo escreveu sem indicar o contexto; se assim é, que serei eu se continuar a discussão? Burro? Não. Nem sequer Burro Três Vezes, tal como Hermes Trismegisto era Três Vezes Máximo. Serei uma besta!
Se porfio, baldadamente, em demonstrar ao meu caríssimo amigo, que "bendito", "bem-dito" e "bemdito" (forma seguida por Antero de Quental) são sinónimos, têm o mesmo sentido e razão nenhuma existe para que assim não deva ser; se persisto não serei eu uma realíssima besta?
Pode fazer as considerações que quiser.
O que ainda não nos disse foi onde encontro o adjectivo "benvindo", que foi, afinal, o mote de toda esta discussão!
Parafraseando Shakespeare, diria que há mais palavras na língua portuguesa do que as sonhadas pelos vãos dicionaristas do meu caro PBH.
Já expliquei o meu raciocínio, o caminho percorrido até chegar ao adjectivo "benvindo". Guio-me pelas lições que aprendi na obra manualística (cuidado! falamos de manuais, não de dicionários!) de mestres como Cândido de Figueiredo e Lindley Cintra, e na obra literária de grandes cultores da língua portuguesa. Socorro-me do meu (fraco) conhecimento de latim para escavar até à raiz etimológica da palavra. Depois, procuro reflexionar (é reflectir, caso o José Pedro Machado não lhe explique o que significa) sobre o que aprendi e chegar a uma conclusão. E essa conclusão, que encima este extenso rol de comentários, é a seguinte: não vejo qualquer razão para distinguir entre "bem-vindo" e "benvindo", que têm a mesma etimologia e significam exactamente o mesmo, posto que se escrevam de forma diferente.
Que mais quer? Exemplos? Para lhes dar tratamento idêntico ao das citações de Fernão Mendes, de António Vieira e do dicionário de Cândido de Figueiredo? Muito bem, seja! Não o farei agora, por me escassear o tempo para a pesquisa, mas tornarei ao assunto logo que possa. Prometo.
Aguardo então que reflexione e investigue, e dê-nos depois novas das suas conclusões!
Tenho sempre muito gosto de aprender com os demais as novas formas de escrever o português.As novas, as velhas, o vernáculo e o imaginário.
Não compreendo é como socorrendo-se o meu amigo de tão ilustres cultores da Língua não nos facilita a vida e vai à entada (talvez vã) do dicionário de Cândido de Figueiredo em busca do adjectivo benvindo.
Mas deixo-o a reflexionar no tema e depois me dirá.
Que discussão improfícua.
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