22 outubro 2007

O Jardim III




Termino esta pequena série de três "post" sobre alguns jardins lisboetas com o exemplo mais deplorável do que é a degradação do património histórico/natural na cidade de Lisboa.
Era meu objectivo ao escrever estes textos, não só dar a conhecer um pouco da realidade dos três mais importantes espaços verdes da capital (à excepção naturalmente de Monsanto e de alguns jardins de Bairro, sendo o mais significativo o da Estrela) que são muito pouco conhecidos e vividos pelos lisboetas.
Era também minha intenção mostrar que o discurso político é muitas vezes alheio à realidade do país. Só isso justifica que nas últimas eleições para a CML nenhum candidato, ao falar de espaços verdes mencionasse qualquer um destes lugares. Falam portanto de cor. Nenhum destes jardins está sob a tutela directa da CML é verdade; mas sendo que constituem os mais significativos espaços verdes da capital, e dado o seu estado de degradação, seria importante e necessária uma intervenção.
A Tapada das Necessidades é o mais notável jardim Lisboeta. É-o por várias razões. Porque está hoje no centro da cidade, porque constitui a maior propriedade murada do séc XVIII em Lisboa, porque foi construido como jardim adjacente ao Paço das Necessidades e por essa razão usufruido como Jardim Real, porque possuíu em tempos o maior conjunto de raridades botânicas e foi, ao tempo do rei D. Fernando II o laboratório onde nasceu o Parque Nacional da Pena. É notável ainda pelo conjunto de pavilhões, estatuária, fontes, lagos e estufas, todos eles do tempo em que o Palácio das Necessidades era o Palácio Real de Lisboa.
Quaisquer adjectivos seriam limitadores para classificar o estado de degradação deste espaço.
Quase nada está de pé, quase nada existe já com esplendor. Não há arruamentos decentes, não há água nos lagos ou nas fontes, não há preservação da flora, não há pessoas.
Aquele que foi em tempos o mais bonito, o mais importante e o mais simbólico jardim de Lisboa e provavelmente do país é hoje coisa nenhuma.
Não tenho memória de qualquer país da Europa Ocidental onde os jardins dos respectivos palácios reais não estejam arranjados, sejam utilizados e usufruidos pelos cidadãos!
Lisboa é uma excepção que envergonha todos os lisboetas!

4 comentários:

Anónimo disse...

E eu, que tive o previlégio de o acompanhar nestas passagens por alguns dos jardins desta Cidade e a este em particular, devo dizer com algum pesar... meus senhores... não havia Necessidade(s)!

Carlos Sério disse...

Quem não ama a Cultura não ama o País.
Força na denuncia destas situações.
Sempre solidario.
abraço,ruy

Anónimo disse...

"Quem não ama a Cultura não ama o País.
Força na denuncia destas situações.
Sempre solidario.
abraço,ruy"

IDEM. :)

Get Real! disse...

Inacreditável! Boa reportagem, Pedro!