02 outubro 2007

O Jardim II


Depois da visita ao Jardim Botânico do Príncipe Real, decidi fazer uma outra visita, desta feita ao Jardim Botânico Tropical.
Este magnífico jardim situado em Belém, por detrás da fábrica dos famosos pastéis, é outro espaço verde monumental que a Cidade de Lisboa possúi, mas que infelizmente, a par dos seus congéneres, não é vivido pelos alfacinhas nem é motivo de grande preocupação por parte dos mais directos responsáveis.
O Jardim Museu Agrícola Tropical (JMAT) foi criado em 25 de Janeiro de 1906 por Decreto Régio, no contexto da organização dos serviços agrícolas coloniais e do Ensino Agronómico Colonial no Instituto de Agronomia e de Veterinária, tendo-se denominado então Jardim Colonial. Servia nessa altura como espaço sobretudo didáctico, numa época em que despertava o interesse pelas ciências biológicas e botânicas em particular.
Aquando da Exposição do Mundo Português em 1940, este Jardim sofreu uma profunda remodelação e fez parte integrante da exposição. Aí se encontravam vários pavilhões que ilustravam a vida nas colónias, a botânica e inclusivamente alguns animais vindos das partes mais longínquas. Ainda hoje, um passeio atento por este espaço permite observar alguns dos elementos decorativos e esculturais desse período, nomeadamente um conjunto muito diversificado de bustos de africanos que rematam as entradas dos principais espaços do Jardim.
O estado geral de conservação do jardim não é muito mau, comparativamente com os seus congéneres, contudo, muitas das antigas estufas, para não dizer a sua totalidade, encontram-se em avançado estado de degradação. De igual forma, os vários pavilhões estão ou abandonados ou degradados. É interessante verificar o belíssimo estado de conservação dos jardins do Palácio de Belém, do outro lado do muro, e fazer uma comparação com o lado de cá!
O caso de maior incúria parece estar, no entanto, no espaço que foi em tempos uma curiosa recriação de um jardim de Macau. Este espaço, construido minunciosamente entre pequenas pontes, ribeiros e vegetação oriental termina num pequeno pavilhão chinês, hoje vazio de qualquer elemento humano.
Através de uma pequena investigação, descobri que este jardim, que está sob a tutela do IICT, tem uma Liga de Amigos. Fazem parte dessa desinteressada liga nomes como o do Director do CCB, Mega Ferreira, o Chefe da Casa Civil do PR ou administradores do Citigroup, numa lista que se pode consultar on-line. O mais curioso no entanto, é não se compreender que, com este elenco de luxo, que são os tão distintos Amigos do Jardim, este se encontre em tal estado de conservação.
Mais uma vez sugiro aos leitores da Gazeta um passeio a este jardim para verificarem com os seus próprios olhos, aquilo que acabei de escrever. Depois tentem inscrever-se na Liga, se nisso tiverem interesse e digam-me se forem aceites!



1 comentário:

André SD disse...

Acho muito interessante as abordagens do PBH pois revejo-me por inteiro nas preocupações com a nossa cidade de Lisboa. Foi aliás um dos motivos que me levou a aceitar o convite de participar, com toda a honra, enquanto gazeiteiro lusitano. Lisboa merece toda a nossa atenção.
Há espaços muito mal aproveitados já para não falar (irei falar sim!) dos mal tratados que infelizmente ainda graçam por aí. Dos últimos que visitei e que necessitavam de cuidados foram, confesso que já algum tempo, a Tapada das Necessidades e o Jardim Botânico da Ajuda. Ambos os espaços já foram utilizados pela família real,comportando para além da sua riqueza e diversidade botânicas um peso (pelos vistos penosamente...) histórico indissociável dos palácios das Necessidades e da Ajuda respectivamente, e por conseguinte da história da própria cidade.
É confragedor constatar que espaços como os mencionados se encontram tão distantes da população e tão carentes de intervenções de recuperação e valorização. Tanto quanto sei nem um nem outro têm a tutela da Câmara Municipal de Lisboa. Contudo, como é do mais elementar interesse da população lisboeta e de quem visita a cidade ter estes espaços em condições de serem fruídos e usufruídos por todos não deveria a CML tomar alguma iniciativa enauquanto grande instituição pública?
A propósito de CML o que é que se passa com o jardim de onde se tem, a meu ver, das melhores panorâmicas lisboetas (S. Pedro de Alcântara)? Fechado há que tempos sem fim! Já pagaram aos senhores que executam as obras? Ninguém trabalha de borla... parece que há quem não tenha noção disso.