Tinha prometido, em tempos, um post sobre a questão do próximo referendo ao aborto. Nele procuraria explicar o meu sentido de voto, e atendendo às posições já expressas neste blog, seria mais um contributo para a discussão.
Acontece que chegado a este momento, ainda hesito sobre o meu sentido de voto.
Há oito anos, votei “não” no referendo. Passado este tempo todo, quase 10 anos, constato que pouco ou nada mudou.
O País continua sem uma verdadeira política de educação sexual, os incentivos à maternidade/paternidade são a mesma miséria de sempre, os benefícios fiscais às famílias mais numerosas são ridículos, os processos de adopção continuam a demorar eternidades, o Estado não é capaz de garantir a segurança e o bem estar das crianças órfãs ou abandonadas nas suas instituições, vide caso Casa Pia e outros que lhe seguiram, etc.
Por outro lado subsiste sempre a questão da vizinha Espanha.
Basta percorrer uns quantos quilómetros e estamos em terras de Suas Majestades os Reis Católicos, onde calmamente e em segurança se pode abortar em clínicas especializadas para o efeito.
Nos últimos anos, sempre que têm ocorrido julgamentos de casos de aborto, discute-se a penalização do mesmo, e raros são os responsáveis, políticos e não só, que vêm dizer que apoiam os julgamentos. Bem pelo contrário.
Não falo já das questões complicadas de pais que abusam sexualmente dos seus próprios filhos ou que lhes infligem maus-tratos que por vezes conduzem à morte. Tudo isto mais uma vez perante a impotência ou mesmo incompetência das autoridades. Nem me refiro mesmo às dezenas de bebés que todos os anos são abandonados em caixotes do lixo ou à porta de instituições sociais, frequentemente apenas com uma réstia de vida.
Perante este panorama que vos descrevo, estava determinado a votar “sim” neste referendo. Não que ache que isso resolva completamente o problema, como é óbvio, mas a actual legislação também se tem mostrado totalmente ineficaz. E o Estado não tem cumprido a sua parte e a sua responsabilidade acrescida pelo resultado do referendo de 1998.
No entanto, há uma questão que me tem suscitado dúvidas, e que se prende com uma das premissas da pergunta: “por opção da mulher”.
Quer isto dizer que a mulher, desde que seja essa a sua vontade, poderá realizar um aborto. Então e o pai? Não tem nada a dizer? Se são precisos 2 para fazer, por que razão há de ser só 1 para desfazer?
Em conversa recente com um amigo meu, que é jurista, ele demonstrava-me, por absurdo, o caricato da situação a que poderemos chegar:
Eu, que sou casado em regime de comunhão de adquiridos, se quiser vender o carro (comprado após o casamento) tenho de pedir o consentimento da minha mulher. Já ela, se pretender abortar de um filho nosso, eu não sou tido nem achado! Não acho normal!
Resumidamente: se a mãe quiser ter a criança e o pai não, ela nasce. Se a mãe não quiser ter a criança e o pai quiser, ela não nasce! Não acho normal!
Perante tudo isto, acho que irei mesmo votar “em Branco”… Mas ainda estou na dúvida...
Acontece que chegado a este momento, ainda hesito sobre o meu sentido de voto.
Há oito anos, votei “não” no referendo. Passado este tempo todo, quase 10 anos, constato que pouco ou nada mudou.
O País continua sem uma verdadeira política de educação sexual, os incentivos à maternidade/paternidade são a mesma miséria de sempre, os benefícios fiscais às famílias mais numerosas são ridículos, os processos de adopção continuam a demorar eternidades, o Estado não é capaz de garantir a segurança e o bem estar das crianças órfãs ou abandonadas nas suas instituições, vide caso Casa Pia e outros que lhe seguiram, etc.
Por outro lado subsiste sempre a questão da vizinha Espanha.
Basta percorrer uns quantos quilómetros e estamos em terras de Suas Majestades os Reis Católicos, onde calmamente e em segurança se pode abortar em clínicas especializadas para o efeito.
Nos últimos anos, sempre que têm ocorrido julgamentos de casos de aborto, discute-se a penalização do mesmo, e raros são os responsáveis, políticos e não só, que vêm dizer que apoiam os julgamentos. Bem pelo contrário.
Não falo já das questões complicadas de pais que abusam sexualmente dos seus próprios filhos ou que lhes infligem maus-tratos que por vezes conduzem à morte. Tudo isto mais uma vez perante a impotência ou mesmo incompetência das autoridades. Nem me refiro mesmo às dezenas de bebés que todos os anos são abandonados em caixotes do lixo ou à porta de instituições sociais, frequentemente apenas com uma réstia de vida.
Perante este panorama que vos descrevo, estava determinado a votar “sim” neste referendo. Não que ache que isso resolva completamente o problema, como é óbvio, mas a actual legislação também se tem mostrado totalmente ineficaz. E o Estado não tem cumprido a sua parte e a sua responsabilidade acrescida pelo resultado do referendo de 1998.
No entanto, há uma questão que me tem suscitado dúvidas, e que se prende com uma das premissas da pergunta: “por opção da mulher”.
Quer isto dizer que a mulher, desde que seja essa a sua vontade, poderá realizar um aborto. Então e o pai? Não tem nada a dizer? Se são precisos 2 para fazer, por que razão há de ser só 1 para desfazer?
Em conversa recente com um amigo meu, que é jurista, ele demonstrava-me, por absurdo, o caricato da situação a que poderemos chegar:
Eu, que sou casado em regime de comunhão de adquiridos, se quiser vender o carro (comprado após o casamento) tenho de pedir o consentimento da minha mulher. Já ela, se pretender abortar de um filho nosso, eu não sou tido nem achado! Não acho normal!
Resumidamente: se a mãe quiser ter a criança e o pai não, ela nasce. Se a mãe não quiser ter a criança e o pai quiser, ela não nasce! Não acho normal!
Perante tudo isto, acho que irei mesmo votar “em Branco”… Mas ainda estou na dúvida...