Grande parte da colecção de Joe Berardo (ou da sua fundação) de arte contemporânea (e não só) vai ocupar o centro de exposições do CCB. Após a polémica em torno do acordo, aliás já comentado aqui na Gazeta, entre esta fundação privada e o Estado Português surge o mais recente espaço museológico da cidade de Lisboa. A qualidade artística e o valor cultural da colecção só a alguns suscitam dúvidas. É, efectivamente, uma colecção, nomeadamente a de arte contemporânea, transversal aos principais movimentos artísticos que marcaram o século XX e de dimensão verdadeiramente internacional.
Polémicas à parte, vem enriquecer o parque museológico lisboeta e o panorama cultural da cidade. Os lisboetas e os visitantes desta urbe à beira Tejo plantada podem assim usufruir e fruir tão vasta e rica colecção de pintura, escultura, instalação e outras formas de expressão artística tão ecléticas e inovadoras. Espero que venha a ser um contributo de peso para uma melhoria na articulação entre turismo e cultura e que coloque, com um outro destaque, Lisboa na rota do turismo cultural e de qualidade em termos internacionais.
Boa visita!
12 comentários:
Pena que o custo seja tão elevado!
Mas um dia destes lá passarei, quando a febre e a excitação acalmarem.
Já agora, caro André, apenas uma nota: A Fundação Joe Berardo não é privada. É público-privada, sendo que o Estado e Joe Berardo detém iguais partes de 50%.
Exacto PBH. E o Estado presta apoio financeiro directo e através de serviços prestados pela Fundação CCB, já sem falar na cedência do espaço.
Sempre fui crítico da política do MC de desviar elevadas somas para o CCB e para a Fundação de Serralves, que também é público-privada, descuidando, e muito, os outros museus do parque museológico nacional tutelados por si. Um equilibrio maior seria o mais justo e o mais apropriado. Assim não teriamos parente ricos e parentes pobres da cultura em Portugal e dentro da própria tutela pública (ou com participação pública).
Agora queria apenas assinalar a abertura de um novo museu, com uma colecção importante e que Portugal não poderia desperdiçar. Agora os desperdícios evitam-se de muitas maneiras. De acordo. Mas polémicas de lado, Lisboa tem um novo museu, que se quer dinâmico, vivido e que se seja um contributo para a qualidade da oferta cultura lisboeta e para a internacionalização da nossa cidade.
Sem dúvida de aplaudir a abertura deste novo museu, que espero poder visitar em breve, e o seu post, caro ASD, por o referir e por introduzir novos temas neste blog tão político.
Mas se fala em internacionalização da cidade de Lisboa, já deveria estar neste blog há mais de um mês, um post seu sobre a Trienal de Arquitectura de Lisboa, evento de projecção internacional que decorre até final de Julho, sob o tema Vazios Urbanos, e que pretende colocar o país na rota mundial dos eventos do género, apoiado, claro está, pelo enorme reconhecimento de que o país já goza nesta matéria, em grande parte fruto da obra do arquitecto Siza Vieira. Já foi a alguma exposição? Conferência? Concerto? Para a semana está convidado a acompanhar-me!
RM,
Disseram-me que a exposição sobre o Siza no Museu da Electricidade no âmbito da organização que referes não é assim muito recomendável... mas não há nada como constatar (ou não) in loco. Mas há mais eventos, lá isso há.
Dá notícias quando chegares a Lisboa.
Parece que o extraordinário Museu do sr. Berardo começa mal.
Nem passam 24 horas da inauguração, e já o Director se demitiu.
Pas mal...
Não é muito bom sinal, não é de facto... Mas estás a falar da demissão de Mega Ferreira do cargo de Presidente do Conselho de Fundadores da Fundação Colecção Berardo, certo? E não de Jean-François Chougnet, director do Museu, é isso?
Sim, exactamente de Mega Ferreira e do Conselho de Fundadores. É que Mega Ferreira, para além de ser Presidente do Conselho é também director do CCB, cargo do qual não se demitiu.
Não auguro nada de bom para a relação entre as duas instituições, quando as respectivas direcções, em menos de 24 horas se desacatam publicamente.
Mas neste pais das imagens, um comendador com dinheiro vale mais que o bom senso...
Para além de não se ter demitido do cargo de presidente da Fundação CCB irá continuar a representar esta mesma fundação no seio do Conselho de Fundadores. Resultará? Tenho sérias dúvidas...
Por um lado percebo a posição de Mega Ferreira, não quer que o CCB se resuma a ser o Museu da Fundação Colecção Berardo. Por outro, se pelos vistos não concorda com os termos do acordo entre o Estado Português e J. Berardo será que deveria continuar à frente da direcção da Fundação CCB?
Deveria demitir-se.
Em tempos escrevi neste Blog vários textos acerca do que penso da constituição desta Fundação e das implicações que isso tem na gestão do CCB.
O que é extraordinário é que Joe Berardo diz publicamente que para ele é um mau negócio, e muitos dos dos dirigentes do Estado também, a começar pelo próprio director do CCB.
Afinal a quem serve o negócio?
Há muitas críticas a Joe Berardo, mas ninguém se lembra que este foi o primeiro a gastar uma pequena fortuna em arte (núcleo de 862 peças avaliadas pela leiloeira Christie’s em 316 milhões de euros). Ao longo dos últimos anos abastadas famílias e indivíduos como Berardo, ligadas a bancos e à economia adquiriram bens variados, mas nunca antes se tinha assim investido em Arte no nosso País. Nem os mecenatos, nem o Estado. Nos últimos 10 anos (desde 1997) a Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea têm estado disponível ao público no Museu de Sintra, e acessível a todos, o que torna evidente o ridículo da correria e das bichas do manipulado povinho. Não é a partir de agora que Lisboa, Portugal ou arte Portuguesa vão ficar no mapa, como (nas palavras mal aconselhadas pelo assessor da cultura) disse José Sócrates: "Até hoje, o roteiro de arte contemporânea terminava em Madrid, a partir de hoje, começa aqui, em Lisboa”. Um excelente trabalho e dedicação têm sido feito pela Fundação de Serralves, pela Fundação Calouste Gulbenkian com as ajudas de custo a bolseiros desde há 50 anos, bem como outras mais pequenas Fundações e associações para pôr Portugal no mapa da Cultura Internacional. Bom, e um tremendo esforço têm sido feito por artistas plásticos, críticos, comissários, que lutam diariamente para trabalhar e expor num País que funciona por modas e onde não existe uma verdadeira plataforma para a Arte e Cultura: um país onde persistem exemplos de falta de moral, de falcatruas políticas, de roubos consentidos e obras mega facturadas por maus empreiteiros, fracos arquitectos e engenheiros, onde não se respeita o cidadão nem o ambiente, onde ladrões de dinheiro público agem na política e no futebol impunemente, o que podemos esperar? Onde não existe uma verdadeira ética nas atitudes dum País e num Povo de memórias curtas leva-nos a uma situação como esta, um Joe Berardo que ameaça e insulta a administração do CCB, que ameaça o governo de levar para o estrangeiro o espólio. António Mega Ferreira, é um homem brilhante e seríssimo, um intelectual e não merecia esta complacência do Estado. Por outro lado, esta colecção aberta ao grande público no CCB é bastante importante, já que a maioria das pessoas não têm capacidade para viajar e ver obras de autores tão fundamentais e geniais como alguns que estão representados na colecção. "O dinheiro é o único poder que nunca se discute", pelo menos assim parece.
Cara Joana,
Que venham mais "joe berardos" no sentido em que desejamos todos mais e melhores mecenas, mais e melhor mecenato e verdadeiros cultores e apoiantes das artes, quer particulares quer instituições.
Mais "joe berardos" em outros sentidos não obrigado. Concordará comigo estou certo.
Ainda há muito por fazer no campo do mecenato e do apoio à cultura, nomeadamente às artes visuais ou plásticas. Mas também reconheço que a situação já foi pior.
Como última nota deste comentário deixo uma referência à diferença entre mecenato e patrocínio. Por vezes os conceitos confundem-se o que não é bom. São coisas distintas e implicam atitudes distintas.
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