15 junho 2007

Valley Park...


Em Setembro do ano passado, o ministro da Saúde, Correia de Campos, disse à agência Lusa que o governo estava a procurar um terreno em Lisboa ou fora da cidade para transferir o Instituto Português de Oncologia e justificou a mudança com as limitações físicas do actual edifício, junto à Praça de Espanha. Nada mais se soube, e o assunto seguiu os trâmites habituais.
Na semana passada, o astuto Presidente de Oeiras, Isaltino Morais, anuncia, aparentemente sem conselho governamental, ter recebido uma «resposta favorável» do Governo quanto ao projecto das novas instalações do IPO em Barcarena, num terreno de 12,5 milhões a ser adquirido pela autarquia.
A polémica desde logo se instalou, nomeadamente junto dos candidatos à CML que logo vieram defender em uníssono a necessidade de manutenção daquela unidade hospitalar na Capital.
Entretanto, Isaltino acusa os candidatos de «incapacidade e fraca ambição» porque «manifestaram preocupações sem sentido». Afinal Oeiras pertence à Área Metropolitana de Lisboa.
Enquanto estes acontecimentos se desenrolam ao longo da Av. Marginal, eis que um outro autarca, mais jovem mas nem por isso menos astuto, decide também ele apresentar publicamente a disponibilização de um terreno para a construção do novo IPO.
Paulo Caldas, Presidente da Câmara Municipal do Cartaxo informou a agência Lusa, logo na sexta-feira, «que ainda hoje fará chegar ao ministro da Saúde uma missiva dando conta da disponibilidade do seu concelho para acolher as novas instalações do IPO, tendo em conta que o processo está ainda «em fase de decisão» no Ministério.
Estranha-se que uma preocupação manifestada pelo Ministério da Saúde há um ano seja agora alvo de tantas e tão rápidas manifestações de interesse!
Mas a explicação pode até nem ser complexa.
Segundo o autarca, ao contrário de Oeiras, que se disponibilizou para adquirir um terreno para instalar o IPO, a autarquia cartaxense pode disponibilizar 12 hectares de terreno de forma quase imediata, se o projecto for considerado de interesse nacional, permitindo ultrapassar a burocracia na aprovação do projecto Valley Parque. O terreno em causa insere-se nos 15 hectares destinados à instalação de um «parque de ciência e tecnologia» de uma área de 130 hectares cujo plano de pormenor se encontra em análise na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, explicou. O Valley Parque, que tem parte dos terrenos já adquiridos, inclui ainda uma área residencial (40 hectares), uma área para instalação de indústrias e serviços (60 hectares) e espaço para instalação de uma sede e serviços sociais e de apoio.
Será ingenuidade do edil ou sou eu que não compreendo bem as explicações de Paulo Caldas?
A sua oferta «gratuita» de um terreno para a instalação do IPO "pode ser imediata se o projecto for considerado de interesse nacional"? Qual projecto? O do IPO ou do seu Valley Park? É que o IPO só necessita de 12 hectares, e o Valley Park tem 130. Terá em mente o edil cartaxense ultrapassar as dificuldades administrativas na aprovação do seu projecto magalómano atraindo o IPO para o Concelho?
A ideia não está mal pensada não senhor!!
Esperemos, contudo, que o IPO não se instale a 60 km de Lisboa e que se mantenha na Capital e que o Dr. Caldas cumpra a lei sem muitas ideias originais, sob pena de um dia ir parar a um qualquer Valley por ordem do Tribunal!

1 comentário:

André SD disse...

Ideias originais... parece-me ser um pouco o chico espertismo que tão enraízado está entre nós portugueses. Talvez também misturado com um naco de chantagem do género "eu dou-te isto MAS tu dás-me aquilo". Não digo que não fosse um bom "negócio" para o concelho do Cartaxo e concordo que cabe ao seu presidente de câmara defender os interesses do município que o elegeu. Agora que há formas mais correctas e outras menos correctas de o fazer lá isso há! É um toma lá dá cá bem descarado!