20 setembro 2007

O esfique...


O féretro de Aquilino Ribeiro foi ontem transladado para o Pateão de Santa Engrácia.
Teve honras de Estado e a presença dos mais altos dignitários da Nação, como convém a uma cerimónia desta importância.Teve hino e teve música...
Aquilino Ribeiro foi seguramente um escritor de mérito. Não li niguém que escrevesse português de forma tão rica e tão graciosa no século XX. Antes dele, só provavelmente Camilo soube utilizar de forma tão fácil e inteligente o articulado da língua de Camões.
O seu mérito literário é inegável e isso seria merecimento suficiente para que os seus restos mortais descansassem ao lado dos de Camilo, Garrett, Guerra Junqueiro e João de Deus em Santa Engrácia.
Contudo, existe uma particularidade que separa Aquilino dos demais homenageados. Aquilino Ribeiro foi membro activo da carbonária e de grupos radicais no príncipo do século em Portugal.
Participou, entre outros, na fabricação de bombas, em conspirações e, mais grave que tudo mais, foi um dos autores, senão material pelo menos moral, do Regícidio!
Colocar no designado Panteão Nacional um homem que assumiu ser autor do Regícidio que vitimou o Rei de Portugal D. Carlos I e o seu filho mais velho D. Luis Filipe em 1908 é um atentado à ética política e de cidadania que deveria conduzir este tipo de decisões por parte do Estado, mais especificamente da Assembleia da República, que é quem decide sobre tais matérias. O extraordinário é que não há registo de que nenhum deputado ( e são necessários os votos de todos os deputados) tenha feito ouvir a sua voz para defender a memória do antigo Chefe de Estado. Nem mesmo os dois deputados do PPM se fizeram ouvir!Prova maior da sua inutilidade!
Estranho é, que o actual Presidente da Assembleia da República, homem culto e conhecido por ter simpatias monárquicas, tenha promovido esta campanha, sem que ele mesmo tenha feito qualquer referência ao percurso menos literário de Aquilino.
Assim, depreende-se que a República pouco se importa com o Portugal anterior a 1910. Essa data parece aniquilar tudo. A revolução legitimou, ao que parece, tudo, mesmo o assasinato de um Chefe de Estado em praça pública.
Na verdade pouca importância tem este facto, a não ser para meia dúzia de pitorescos. Afinal, para além dos escritores mencionados anteriormente, só se encontram neste panteão da República, Amália Rodrigues (personalidade inócua politicamente) e os fundadores do Portugal Novo de 1910; Manuel de Arriaga eTeófilo Braga. A acrescentar a estes, só dois homenageados do Estado Novo, Sidónio Pais e Óscar Carmona; e um homenageado pela facção contrária: Humberto Delgado.
Estão todos bem uns para os outros.

R.I.P

4 comentários:

António de Almeida disse...

-Aquilo é mais um mausuléu da república que um panteão nacional. Os próximos candidatos serão A.Cunhal, V.Gonçalves, Costa Gomes nos já falecidos e MÁrio Soares, José Saramago e Otelo S. Carvalho nos vivos. Acreditam?

Pedro BH disse...

É bem possivel.
Já nada me espanta!

Anónimo disse...

A maçonaria, Pedro, a maçonaria....

Pedro BH disse...

Pois. A Maçonaria!