Fui ver ao cinema um filme italiano que conta a história de António, um antigo frade agostinho que se converte ao franciscanismo e parte para a Itália em busca do fundador daquela Ordem, S. Francisco de Assis - António, cavaleiro de Deus. Popular em todo o mundo cristão, Santo António de Lisboa, é uma personagem pouco conhecida no que concerne aos seus escritos e à sua biografia.
O filme não ajuda muito. O argumento é fraco, os diálogos também. Os cenários menos mal...
Contudo, este filme aborda de forma exaustiva uma questão muito cara a António, a questão da usura. Prática comum em alguns sectores da sociedade no mundo medieval, a usura era considerada crime grave, ainda que os agiotas, por serem normalmente pessoas ricas e bem posicionadas social e politicamente raramente eram alvo de qualquer processo.
Santo António consegue a condenação de alguns ilustres agiotas de Pádua e é aclamado pelo povo daquela cidade como seu justiceiro.
Não querendo discutir questões hagiográficas ou religiosas, o que pretendo ao escrever este "post" é deixar à reflexão esta questão que me parece interessante:
Não querendo discutir questões hagiográficas ou religiosas, o que pretendo ao escrever este "post" é deixar à reflexão esta questão que me parece interessante:
Há cerca de 500 anos, a usura era um crime condenado pela sociedade e pelos tribunais. A luta contra este crime condenou muitos e elevou muitos outros ao púlpito da justiça popular.
Hoje, na nossa sociedade dita civilizada, a usura é praticada amplamente, constituindo mesmo um dos pilares fundamentais da nossa organização económica.O termo "juro" substituiu o termo "usura", mas na prática a sua aplicação é semelhante...
O que significará a nossa aceitação hoje desta prática que tanto indignou os nossos antepassados?
2 comentários:
Vi o filme há um ou dois meses, não posso precisar com rigor. Enquanto peça cinematográfica achei-o razoável, pensei que fosse mais aborrecido e apologético em termos de religião. Não é um grande filme, mas é um filme bastante razoável enquanto peça de época. Segui o desenrolar da história com interesse e encantado com a sonoridade da língua italiana. Apesar do dito Santo António ser oriundo de Lisboa, Portugal! Mas claro na desesperante atitude portuguesa de secundarizar ou menosprezar mesmo tudo aquilo que é "made in Portugal" o filme não é português...
Este português, de alcance internacional, cá só é mote para sardinhadas, arraiais e eventos similares, contra os quais, por princípio, não tenho nada contra, mas que são manifestamente insuficientes para a promoção e divulgação de valores nacionais.
Fala, e bem o Pedro BH da usura da Idade Média e da Idade Contemporânea, se assim quisermos designar. Em muitos casos vejo razão de ser na associação de ideias entre práticas análogas em um e outro período. O facilitar o acesso ao crédito, o constante apelar ao mesmo com aplicações de taxas de juro muito pesadas (e quase nunca claramente anunciadas ao cidadão/consumidor) são motivos de preocupação. Quer pela prática em si mesma quer pelo materialismo gritante ao qual as sociedades contemporâneas têm aderido em massa. Há quem se aproveite disso e quem o incentive e há também os que incentivam e se aproveitam, estimulando um ciclo vicioso extremamente lucrativo para alguns, mas altamente danoso do bem comum.
A questão da usura é um problema discutido actualmente nas sociedades islâmicas mais tradicionais como seja por exemplo o caso da Arábia Saudita.
A sharia proíbe a usura, e por isso o governo saudita facilita concessões de crédito a taxa zero, dentro de certos limites e dentro de regras bem definidas, a alguns dos seus cidadãos.
No entanto, como toda a gente, à excepção das organizações públicas, uma organização privada precisa do lucro para sobreviver, crescer e expandir-se. Mais, o cidadão comum precisa de ser "penalizado" para sentir a motivação de pagar aquilo que deve (caso contrário por que o pagaria?)
Não vejo problema nenhum no que diz respeito ao crédito, ao microcrédito, ao sobre-endividamento, nem em qualquer outra designação. Vejo sim um problema na falta de consciência que muita gente demonstra para aquilo que são as suas possibilidades financeiras, e as suas responsabilidades perante outros.
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