28 setembro 2006

A derradeira inveja!



Depois da comentada sondagem do Arqt. Saraiva, da inédita visita do Sr. Presidente da República a Espanha como primeira visita oficial, eis que assistimos na televisão pública a um espectáculo desconsolador com o ex-Presidente do Governo espanhol, José Maria Aznar.
O programa Prós-e-Contras, transmitido no passado dia 25, em que o entrevistado especial da noite era José Maria Aznar, foi profundamente lamentável. Lamentável, não pela escolha do entrevistado, que é um político de reconhecido talento, mas pelos temas das perguntas e pelas afirmações que se fizeram durante a noite, nomeadamente pela jonalista Fátima Campos Ferreira. Assistimos mais uma vez, mas agora a nível televisivo e em directo, com uma assistência de notáveis portugueses das mais diversas áreas na plateia, e na presença de um importante politico espanhol, a um exercício de comiseração nacional.
Aquilo a que nos habituámos a escutar a uma significativa parte da população portuguesa em qualquer mesa de café, sobre o seu ressentimento e inveja em relação aos bens, ao nível de vida, aos caramelos, à gasolina, aos automóveis, ao sucesso económico e às conquistas politicas do país vizinho, passou, definitivamente, para o espaço da discussão pública e constitui-se portanto como um facto assumido e não negligenciável.
Perguntas como: Porque é que as empresas espanholas têm sucesso e as nossas não? Porque é que as empresas espanholas têm sucesso em Portugal e as nossas não saem de cá? Porque é que o Instituto Cervantes tem uma politica cultural agressiva e o Instituto Camões ninguém sabe o que é? Podemos chegar ao Brasil e a África através de Espanha? Qual o segredo do sucesso? Por último ( em derradeiro desejo de compreensão e conforto): Sr. Aznar o que le gusta mais em Portugal? - Todo, me gusta todo!
Pois é, a eles, como a tantos outros," les gusta todo". Mas a nós não!
Assistimos a uma profunda crise de identidade e desorientação. Como disse, e muito bem, Hernâni Lopes, este é um debate conosco próprios!
Qual é a razão profunda desta crise? Será apenas uma questão económica? Política? Social? Não! É sobretudo uma questão mental.
O continuado olhar para o que é exterior a nós, desperta muitas vezes um sentimento de cobiça e de inveja. É aí, mais do que em qualquer outro lugar, que a questão reside.
O desenvolvimento económico em Portugal, não foi acompanhado de um verdadeiro desenvolvimento ao nivel das mentalidades, e isso, reflecte-se quer nos comportamentos sociais, quer na participação política, quer na iniciativa individual.
Colocar o centro das nossas preocupações no que os outros fazem ou deixam de fazer, num continuado exercício de comparação é a pior receita para o progresso. Mas colocá-lo em nós é muito mais complexo. Lá estarão à espera os receios, a dúvida, a incerteza, a decisão, a consciencialização. Assistimos agora à febre espanhola, como assistimos já a tantas outras febres. Os espanhóis, naturalmente, agradecem reconhecidos tanta simpatia e reconhecimento, aproveitando para irem expandindo a sua economia e influência cultural e política, afinal "a ellos les gusta todo", a nós e que só "nos gustan ellos"! A diferença entre nós e eles é exactamente essa, quando se lhes aponta a lua eles vêm-na, nós olhamos para o dedo.
O programa de televisão, mais do que um exercício de comiseração, foi o retrato de um estado de ignorância em que grande parte dos portugueses vivem, quer em relação ao seu país, quer em relação ao país vizinho.
Só a ignorância justifica tanta inveja!

2 comentários:

Anónimo disse...

No se de politica portuguesa ni la situacion economica de ese país, pero de España si se algo.

España es el segundo país de Europa con más 'nuevos ricos'. Pero, al mismo tiempo, es el segundo pais, despues de Polonia, que recibe fondos de la Union Europea, 31.543 millones de euros procedentes de los fondos estructurales y del régimen transitoria del fondo de cohesión, destinado a aquellos países cuyo PIB per capita es inferior al 90 % de la media comunitaria. España recibirá 3.250 millones de euros, pese a haber superado ese límite en 2003. Asimismo, otros 497 millones de euros llegarán a las arcas españolas de la política de cohesión comunitaria del "objetivo de cooperación territorial europeo". La dependencia energética de España llega a su máximo histórico, ya que importó durante 2005 hasta 125,7 millones de toneladas, lo que supone una tasa de dependencia del 85,1%, cifra que aumentó en 7,7% con respecto al año anterior y que supone un nuevo máximo histórico de dependencia energética en nuestro país. Esto se ha sumado a la crisis que vive con Bolivia por el tema de YPF-Repsol.

No se mucho de la Union Europea, pero es muy facil darselas de pais desarrollado con el dinero de los demas, y los españoles deben muchas explicaciones sobre como estan usando ese dinero. Asi, cualquier empresa puede ser exitosa, si los problemas estructurales lo resuelven con dinero de los demas europeos.

Despues del 2013, cuando ya España no reciba nada y pase a ser contribuidor neto de la Union, hablen del exito o no de la economia española

Anónimo disse...

Caro PBH: permito-me acrescentar que, muito para além da mera ignorância, é a inércia que continuará a justificar essa inveja...
e aí está um domínio em que não se pode limitar a culpa ao Governo: o próprio sector privado português não é, decididamente, descendente directo dos grandes aventureiros dos Descobrimentos portugueses, pelo que teme o risco do investimento no estrangeiro e desperdiça, desse modo, o grande potencial qualitativo (ainda que frequentemente não economicamente competitivo) da produção nacional (de bens, como de serviços).