23 abril 2008

O equivoco.


A Assembleia da República votou hoje, com os votos favoráveis do PS, PSD e CDS/PP o Tratado de Lisboa.

Dizem que é um documento importante e que traz profundas alterações ao funcionamento da UE.

Alguém sabe do que se trata?

19 abril 2008

Não há partidos eternos

A não ser Roma e os diamantes nada mais é eterno. E mesmo estes já estiverem mais próximos do enquadramento perfeito no conceito de eternidade. Num mundo onde a globalização (nas suas várias vertentes e variantes) está em curso e em velocidade cruzeiro os acontecimentos sucedem-se muito rapidamente, sabemos de forma igualmente instantânea que as coisas aconteceram ou que vão acontecer e em muito mais sítos em simultâneo, assim como sabemos que outras deixaram de acontecer, outras de existir. Pode ser que seja nesta última moldura que têm lugar as forças políticas. Pelo menos nos modelos actuais. Todas, pelo menos em teoria. Os partidos políticos não são eternos, nem se devem tentar eternizar artificialmente através de plásticas de qualidade, no mínimo, duvidosa. Sabemos que neste mesmo mundo globalizado a imagem, o marketing e a comunicação assumem um papel cada vez mais activo (o que não tem de ser necessariamente mau se nas devidas proporções e no seu devido lugar na lista de prioridades). Para haver algo que deva e mereça ser mostrado, divulgado, comunicado é necessário que haja substância, conteúdo, não apenas uma bonita e moderna fachada com um interior a cair de podre, carcomido pela idade e não só...

Julgo que é neste contexto que se desenrola a recente (ou não tanto assim) crise do PPD/PSD. Mas não é o único que se tenta movimentar (mais do que crescer saudável e evoluir) no actual cenário, que não é exclusivamente nacional , sem um sucesso duradouro. O próprio PS irá, mais tarde ou mais cedo, perceber que está no mesmo barco e que enfrenta as mesmas tormentas, independentemente de maiorias, sejam absolutas ou não.

Social-democracia, democracia cristã, socialismo e comunismo marcam a história política internacional do pós II Grande Guerra. Será possível evoluirem sem se descaracterizarem e serem uma outra coisa? Julgo que, à partida, não. O que não deve ser necessariamente encarado como negativo ou catastrófico. Pode até gerar boas e perenes oportunidades e soluções. Reparem, poderemos considerar a chamada 3ª via de socialismo? Mesmo que seja um socialismo maquilhado com os epítetos de moderno, contemporâneo, democrático, etc, deixou de ser socialismo. E não é só uma questão semântica (o acordo ortográfico é uma outra história ou novela, como queiram). Aliás a semântica aqui só tem relevância no sentido em que é conveniente, a bem do desenvolvimento e do aperfeiçoamento da democracia, comunicar eficazmente estas modificações/alterações/evoluções/retrocessos.

O comunismo, por seu turno, sofreu poucas alterações doutrinárias, dito mais coerente. Acontece que a sua prática política há muito que já se afastou largamente daquilo que é em teoria. Logo, até amanhã coerência! O que é então o comunismo? A sua teoria? A sua prática? A contradição entre ambas? Ou ainda tudo isto em simultâneo? A meu ver a resposta parece-me bastante óbvia.


Se continuarmos este tipo de análise por outras ideologias políticas verificamos que, umas mais outras menos, mas na sua globalidade há alterações significativas que apontam no sentido da descaracterização das ideologias tradicionais. A vida política continua marcada por dois grandes espaços políticos : um à direita e outro à esquerda. Aqui, as mudanças (pois de facto nada será eterno) serão mais lentas. Mas nas ideologias que mencionei a situação está já a colocar-se. São já peças do museu político, ou seja, continuam a ser muito úteis à sociedade e ao seu desenvolvimento e a fornecer referências precisosas, mas já não estão a cumprir com agilidade o essencial da missão para a qual foram concebidas. Já têm outra função. Tal como acontece nos objectos museológicos propriamente ditos, antes de possuirem essa carga detinham outras funções, utilitárias, decorativas, etc.
No meio deste panorâma, e voltando a pegar no PPD/PSD (é assim que este partido político se chama, não utilizo esta designação por uma qualquer proximidade ou afinidade política particular com o Dr. Santana Lopes), a direita da democracia portuguesa (desde o centro político até à direita defensora da democracia e da liberdade, isto é, extremismos à parte) devia repensar-se, devia refundar-se. Urgem reflexão, debate, projectos políticos que promovam a iniciativa privada, a sociedade civil e a cidadania, o mérito, um Estado mais pequeno, mais eficiente e eficaz, uma reorganização das prioridades políticas, que traduzam sínteses entre conservadorismo e liberalismo assentes nos pilares da Liberdade, do Humanismo, do Personalismo. Mal estaremos se PPD/PSD, CDS/PP entre outras forças políticas que se encontram na área política que mencionei não tiverem esse capital, ou não o tendo na integra não sejam suficientemente visionários para o procurarem com energia, determinação, bom-senso e espírito crítico. É não cruzar os braços e pensar que há maiorias que são sempre relativas, como tudo é relativo neste mundo e na humanidade; até os partidos políticos, até mesmo a própria política.

Deixo-vos para a dita reflexão este interessante conceito de eternidade:

"Muito longe nas plagas boreais, numa terra denominada Svithjod, eleva-se um penhasco inponente de cem milhas de altura e cem milhas de circunferência. De dez em dez séculos, um passarinho pousa nesse rochedo, para aguçar o bico.

Quando dêste modo a avezinha houver consumido a rocha, ter-se-á escoado um único dia da eternidade."


in VAN LOON, H., História da Humanidade, 1935

01 abril 2008

O poder e a autoridade.


A actual discussão na sociedade portuguesa sobre a violência nas escolas, os abusos de professores e alunos, a falta de rigor e de disciplina, a juntar a manifestações e protestos de professores de norte a sul do país é sinal de um grave diagnóstico da educação em Portugal.
As imagens publicadas na internet vindas do interior de uma sala de aula no Carolina Michaelis são apenas um exemplo do que acontece um pouco por todo o lado nas escolas públicas.
Fez bem o Procurador Geral da República em enviar para os competentes orgão judiciais a discussão e análise da matéria. Pode parecer um pouco exagerado e não faltaram protestos quer do Ministério da Educação quer até do bastonário da Ordem dos Advogados, mas a verdade é que é importante que este caso sirva de exemplo e sobretudo reforce a confiança dos professores na sala de aula.
Contudo, este caso é apenas um exemplo e mesmo que pontualmente a confiança seja restabelecida, dificilmente o problema estrutural se resolverá. O mais grave problema da educação em Portugal, ao nível da sala de aula, é um problema antigo e estrutural. Trata-se tão somente da definição e delimitação de uma fronteira ténue mas fundamental, que é aquela que separa o poder da autoridade. Infelizmente a grande maioria dos professores possuí o poder que a lei lhes permite mas não possuí a autoridade que o exemplo lhes concede. O poder é um mecanismo simples e um instrumento que se possuí ao serviço da legalidade, contudo, a autoridade advém de uma gama mais complexa de aptidões, indiscutivelmente pessoais, e que se revelam no carácter, no conhecimento, na atitude, e sobretudo na vocação, constituindo no seu todo um exemplo que implicitamente traz consigo o respeito e a consideração.
Não existe nada que nos conceda autoridade. A autoridade é ou não reconhecida no outro através de uma avaliação que não depende do próprio.
Poderia dar variados exemplos da minha vida de estudante de bons e maus professores, quer no ensino secundário, quer na universidade. De uma coisa estou seguro: nunca professor nenhum, a quem os alunos reconhecessem autoridade, alguma vez se prestou ao mínimo acto de desagravo para com um aluno ou vice-versa.