04 março 2009

Socialista freelancer

Vital Moreira é o cabeça de lista do PS às próximas eleições europeias. Abandonou há uns quantos anos o PCP, passou a simpatizante do PS, autodenomina-se hoje socialista freelancer. Diz que foi por coerência que se sentiu na obrigação de aceitar o convite do PS para encabeçar o desafio eleitoral europeu. Diz que não podia estar a escrever semanalmente no Jornal Público e no seu blog sobre assuntos europeus e depois perante o dito convite recusar. Nem pensar, isso sim seria de uma sancionável incoerência! Eu diria mais, é a sequência lógica, tão lógica quanto as suas posições político-partidárias. Assim como a sua postura perante o referendo ao Tratado de Lisboa. Já que é freelancer estará a recibos verdes?

26 fevereiro 2009

Museu d'Orsay: animatógrafo parisiense?

A PSP de Braga, como é conhecido, apreendeu exemplares de um livro intitulado "Pornocracia"que exibia na capa uma célebre pintura do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) da escola realista e não renascentista como noticiou a TVI. Enviou o auto para o Ministério Público. Vamos ver no que isto vai dar...
A pintura faz parte das colecções do Museu d'Orsay em Paris, é considerada uma obra de arte evidentemente e por isso está exposta no referido museu. A PSP alega que fez a apreensão para evitar desacatos. Desacatos? Não por ser divulgação de pornografia (até porque isso acontece na televisão em canais generalistas, basta passar por um vulgar quiosque para exemplares do género serem identificados com facilidade) mas para evitar desacatos!? Outra história com contornos semelhantes aconteceu em relação a um cortejo de carnaval. Foram censuradas imagens alegadamente pornograficas divulgadas por um computador (por acaso ou talvez não um Magalhães). Depois a decisão ficou sem efeito e lá correu o desfile com a normalidade carnavalesca do costume.


Quer num caso quer noutro é absolutamente ridículo gastar-se tempo e certamente dinheiro (dos contribuintes evidentemente) com este tipo de actuação. Já sem falar do falso moralismo, da falta de sentido de humor, a falta de cultura geral, etc, etc, latentes. Um Estado que não valoriza a Liberdade e as liberdades (o que implica obviamente responsabilidade), que quer assumir o controle excessivo dos cidadãos, até nossos aspectos mais pessoais por vezes, de carácter quase policial (recorde-se o episódio das visitas policiais a sedes de sindicatos antes de determinadas manifestações por exemplo) não é o caminho que uma democracia pluralista deve seguir.


Imagine-se se as autoridades policiais francesas apreendessem a própria pintura de Courbet! Museu d'Orsay animatógrafo parisiense? Se já foi estação de comboios...


Concentremo-nos no essencial, pelo menos quando estão em causa as intervenções e as posições do Estado e respectivas autoridades, que do acessório tratamos nós em amenas cavaqueiras nos cafés ou noutros sítios eventualmente indecorosos para alguns. Aí sim podemos dizer disparates, fazer disparates (desde que não colidam com a liberdade dos outros, com a dignidade humana e com a Lei naturalmente) que ninguém tem nada a ver com isso. Indecoroso a meu ver, para não dizer pornográfico mesmo, é o Estado ser tão protector da moral e dos bons costumes mas não se envergonha por ser mau pagador, não ser honrado em tantos compromissos que assume, etc. Confusões entre o essencial e o acessório que são dispensáveis. Aí sim todos beneficiarão.

30 janeiro 2009

Curiosidades

Por acaso sabiam que António Vitorino é o presidente da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva?

29 janeiro 2009

Um cenário

Dado o problema político que o Primeiro Ministro português atravessa (veremos se assumirá também contornos de natureza judicial) eis um cenário possível: Sócrates apresenta a sua demissão ao Presidente da República (PR), António Costa deixa a presidência da Câmara Municipal de Lisboa (CML), assumida entretanto pelo seu vice-presidente Marcos Perestrello, para formar governo pois Cavaco decidira não convocar eleições antecipadas. Dá posse a António Costa (o PR sente-se mal na Sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda na tomada de posse) e ao novo governo. Passados uns meses Cavaco demite o governo de Costa por este se ver envolvido numas quantas pretensas trapalhadas e aí convoca eleições legislativas antecipadas. O PS com Costa à cabeça e o PSD com Ferreira Leite vão a votos. O PSD ganha as eleições com maioria absoluta e Ferreira Leite é empossada como Primeira-Ministra. Entretanto na CML Costa volta à presidência mas Sá Fernandes está cada vez mais afastado até à ruptura (com Costa pois com o Bloco de Esquerda já havido sido!). Roseta assume definitivamente que é vereadora da oposição na Câmara. A CML torna-se instável e fazem-se pressões para eleições antecipadas. Assim acontece. Entretanto pelo PPD/PSD Santana avança deixando o cargo de Ministro de Estado e da Administração Interna que desempenhava no Governo de Ferreira Leite. O PS não apoia Marcos Perestrello que avança como independente (o motivo que corre à boca pequena é que tem um nome demasiado pomposo para ser cabeça de lista de um grande partido popular da esquerda democrática moderna). Arrobas da Silva (vereador do PS em Cascais) é o candidato do PS à CML. Santana ganha as eleições em Lisboa sem maioria absoluta no executivo municipal.

Será? Cheira-me um bocado (grande, enorme) a déjà vu... Será?

28 janeiro 2009

Nós por lá

A Gare da Estação Central dos Caminhos de Ferro em Maputo (projecto de Gustave Eiffel) foi considerada pela Newsweek como sendo provavelmente a mais bela de toda a África e a sétima classificada numa lista de nove estações ferroviárias seleccionadas por especialistas em todos os continentes. Foi inaugurada em Março de 1910 (ainda em monarquia portanto...). Por exemplo, no âmbito da geminação - datada de 20 de Março de 1982 - de Maputo e Lisboa (esta sim faz todo o sentido existir e ser consolidada, ao contrário de algumas que pairam no ar como Gaza...) algo poderia e deveria ser programado para uma comemoração condigna dos cem anos do edifício em 2010.



Nós por lá deixámos marcos de qualidade, testemunhos portugueses que são espelhos de nós próprios enquanto povo aberto ao mundo, cosmopolita (como pode paradoxalmente haver tanta tacanhice??), bem integrado e integrador. O património cultural, em particular o arquitectónico, de raízes portuguesas disperso pelo mundo atesta isso mesmo. Grande parte dele precisa de conservação, de restauro e de ser valorizado. Nesta selecção da revista norte-americana os critérios foram o próprio traçado arquitectónico e o estado de conservação. Ao que parece a dita estação está bem preservada. Pedro BH conheces in loco? Confirmas?





A lista é:



"1. St. Pancras, London


2. Grand Central Terminal, New York


3. Chhatrapati Shivaji, Mumbai


4. Central Station, Antwerp, Belgium


5. Dare des Bénédictins, Limoges, France


6. Lahore Railway Station, Pakistan


7. Central Railway Station, Maputo, Mozambique


8. Hua Hin Railway Station, Thailand


9. Atocha Station, Madrid"





in Newsweek, 19 de Janeiro de 2009




23 janeiro 2009

A tomada de posse, o desfile e a Universidade


Na tomada de posse do 44º Presidente dos Estados Unidos da América, que é como quem diz de Barack Obama, há um facto que não é considerado essencialmente político (mas talvez devesse ser num determinado sentido) que deve ser realçado. Assisti a parte da cerimónia de tomada de posse e retive algo extremamente importante: a participação no desfile de universidades americanas! Moças trajadas (mas não muito, apesar do frio em Washington D.C.) a rigor bem ao estilo universitário americano. Bom, mas não é neste aspecto, que curiosamente destaco impulsivamente, que me quero centrar.

A importância do momento, a presença universitária nesse mesmo momento histórico (quer se goste, quer se esteja de pé atrás, quer não se goste de todo) é o que quero sublinhar (e a traço duplo). A relevância cultural, científica, social, logo deve também ser considerada política no seu sentido mais lato e nobre, do meio académico nos E.U.A. é algo que nos deve, por um lado impressionar, por outro sensibilizar. O papel que a Universidade tem e o que pode vir a ter merece atenção, reflexão e decisões.

A Europa possui universidades com grandes tradições e pergaminhos, com qualidade científica efectiva. Não é isso que está em causa. O impacte social e o peso em diversos sectores da sociedade e da economia que a Universidade alcança nos E.U.A., apesar de tudo é diferente do que sucede na Europa. Nisso os norte-americanos são diferentes. Cá assistimos a este tipo de desfiles no carnaval, nos E.U.A. na tomada de posse do presidente. Com uma grande vantagem do segundo sobre o primeiro. Neste resume-se a diversão e folclore (o que não é necessariamente mau). Naquele podemos atribuir contornos intelectuais e científicos. E bem. O ponto é mesmo esse. A Universidade ensina, forma, qualifica (à partidas as boas quer na Europa quer nos E.U.A) e assume, no caso americano, uma relevância social e política com tanto peso como os militares e a defesa (talvez não tanto mas muito peso pronto!). E bem sabemos o peso que estes têm do outro lado do Atlântico... Nos E.U.A. a Universidade está ao mesmo nível, em termos de influência pública, da comunicação social, de grande empresas com peso económico-social, etc. Quem ganha são os norte-americanos. Bem, aqueles que de uma maneira ou de outra podem ou conseguem forma de pagar as elevadas propinas. A qualidade também se paga. Há também que ter em conta os ganhos indirectos e a longo prazo. Estes não têm preço! Mas esta é outra discussão.

05 janeiro 2009

Volta, estás perdoado!

Como é o primeiro post que escrevo este ano desejo a todos um excelente ano de 2010... 2009 aliás! Sim vamos ter de passar por ele, com realismo, determinação e também esperança, mas sem ilusões. Se o tempo não volta para trás, como seria desejável nalgumas ocasiões, também não acelera, como seria (é) desejável noutras.

Espero que apesar da dita crise financeira e económica de escala global o mundo avance nos processos de paz ( a actual situação no Médio Oriente, infelizmente, não aponta nesse sentido), que se consiga insistir na formação dos recursos humanos, no alcance mais alargado da educação, da cultura e da ciência, que se consiga arranjar soluções alternativas criativas, inovadoras e sobretudo eficazes, que não passem, praticamente em exclusivo, pela injecção de capital do Estado nas empresas (ainda para mais com critérios de selecção questionáveis), que seja feita a escolha prioritária de apoio a projectos de pequena ou média dimensão mas com resultados profícuos e duradouros. Incluo aqui projectos na área da cultura, mas também da economia, sobretudo se falarmos de turismo cultural ou ambiental de qualidade que permitem uma ponte directa entre um sector e o outro. Escrevia outro dia sobre isto um professor universitário catedrático de economia, cuja tese de doutoramento versa sobre a economia internacional, alertando para a importância deste tipo de selecção de investimento público em detrimento das grandes obras públicas, também conhecidas como obras de regime, que pelo menos parcialmente deveriam (e devem) sofrer profunda revisão. Meus caros sabem a que ilustre professor me refiro? Campos e Cunha, ex-ministro das finanças do governo Sócrates, que sai do governo apenas pouco mais de quatro meses após ter tomado posse. Percebe-se bem o motivo da saída (afastamento?) e clarifica para quem ainda pudesse ter alguma espécie de dúvidas qual o rumo que leva o actual governo, ou ausência deles (de rumo e de governo). Logo foi apontado como pouco político e rapidamente remodelável, ou seja, criou mau estar no aparelho do PS e crispação com a dupla Lino e Pinho, portanto é para afastar. É incrível como quem tem ideias estruturadas sobre determinadas matérias, que até dariam projectos interessantes e importantes, razoáveis e viáveis, com um bom equilíbrio custo/benefício é tantas vezes tido como pouco político e se tiver "sorte" ainda por excessivamente técnico em jeito de disfarce do cilindro partidário a sobrepor-se a tudo o resto, mesmo que esse resto seja o interesse público e o desenvolvimento do país. E o problema é ainda mais grave quando constatamos que Campos e Cunha não é caso isolado nem excepção à regra.


Mas Campos e Cunha enquanto governante já lá vai (embora perante tudo o que mencionei é caso para dizer "Volta, estás perdoado!"), temos de pensar quem se seguirá a Sócrates e sobretudo que tipo de democracia queremos e podemos ter, que tipo de organizações políticas e sociais melhor servirão o interesse nacional, e possivelmente rever os próprios interesses nacionais e sua hierarquia de prioridades. Em tempos de guerra, que é como quem diz de crise, não se limpam armas, mas existem algumas (se não armas, ferramentas) que devem estar sempre impecáveis, mesmo (ou às vezes sobretudo) durante crises: capacidade de reflexão, espírito crítico, visão estratégica, dedicação e empenho às causas públicas.

Venha 2009!