26 fevereiro 2009

Museu d'Orsay: animatógrafo parisiense?

A PSP de Braga, como é conhecido, apreendeu exemplares de um livro intitulado "Pornocracia"que exibia na capa uma célebre pintura do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) da escola realista e não renascentista como noticiou a TVI. Enviou o auto para o Ministério Público. Vamos ver no que isto vai dar...
A pintura faz parte das colecções do Museu d'Orsay em Paris, é considerada uma obra de arte evidentemente e por isso está exposta no referido museu. A PSP alega que fez a apreensão para evitar desacatos. Desacatos? Não por ser divulgação de pornografia (até porque isso acontece na televisão em canais generalistas, basta passar por um vulgar quiosque para exemplares do género serem identificados com facilidade) mas para evitar desacatos!? Outra história com contornos semelhantes aconteceu em relação a um cortejo de carnaval. Foram censuradas imagens alegadamente pornograficas divulgadas por um computador (por acaso ou talvez não um Magalhães). Depois a decisão ficou sem efeito e lá correu o desfile com a normalidade carnavalesca do costume.


Quer num caso quer noutro é absolutamente ridículo gastar-se tempo e certamente dinheiro (dos contribuintes evidentemente) com este tipo de actuação. Já sem falar do falso moralismo, da falta de sentido de humor, a falta de cultura geral, etc, etc, latentes. Um Estado que não valoriza a Liberdade e as liberdades (o que implica obviamente responsabilidade), que quer assumir o controle excessivo dos cidadãos, até nossos aspectos mais pessoais por vezes, de carácter quase policial (recorde-se o episódio das visitas policiais a sedes de sindicatos antes de determinadas manifestações por exemplo) não é o caminho que uma democracia pluralista deve seguir.


Imagine-se se as autoridades policiais francesas apreendessem a própria pintura de Courbet! Museu d'Orsay animatógrafo parisiense? Se já foi estação de comboios...


Concentremo-nos no essencial, pelo menos quando estão em causa as intervenções e as posições do Estado e respectivas autoridades, que do acessório tratamos nós em amenas cavaqueiras nos cafés ou noutros sítios eventualmente indecorosos para alguns. Aí sim podemos dizer disparates, fazer disparates (desde que não colidam com a liberdade dos outros, com a dignidade humana e com a Lei naturalmente) que ninguém tem nada a ver com isso. Indecoroso a meu ver, para não dizer pornográfico mesmo, é o Estado ser tão protector da moral e dos bons costumes mas não se envergonha por ser mau pagador, não ser honrado em tantos compromissos que assume, etc. Confusões entre o essencial e o acessório que são dispensáveis. Aí sim todos beneficiarão.

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