27 março 2007

Os Portugueses IV

Em conclusão aos post escritos em Novembro do ano passado e em Fevereiro deste ano, gostava de comentar o resultado do concurso promovido pela RTP que terminou ontem.
Soube esta manhã, porque não vi o programa, que a vitória da eleição do «melhor português de sempre» foi atribuida a António de Oliveira Salazar por parte dos participantes no concurso.
Não posso deixar de lamentar o resultado! Não que atribua demasiada importância ao resultado , fruto naturalmente de paixões pouco reflectidas por parte de votantes que não procuraram outra coisa senão a vitória das suas convicções mais fantasmagóricas. Outra razão não explica que nos três primeiros lugares tenham ficado três figuras representantes de três facções mais ou menos estranhas ao comum dos portugueses ( Salazar, Cunhal e Sousa Mendes).
É estranho e é triste. Aquilo que poderia ter sido um programa interessante para a divulgação da cultura e história nacionais, virou um comício de políticos mortos e ideias passadistas. Nenhum exemplo para o futuro portanto!
Para mim, restam duas conclusões: a primeira é de que a RTP, ou quem dirige o programa, compreendeu finalmente o seu erro ao não incluir a figura de Salazar nos portugueses elegíveis no início do programa, conduzindo por isso, e por reacção, a um movimento de contestação e de apoio por parte de meia dúzia de indíviduos que não encontraram melhor hipótese para reabilitar a figura de Salazar. Erro crasso que espero tenha servido de aprendizagem aos intelectuais que vivem cheios de fantasmas acerca da primeira metade do século XX e do Estado Novo em Portugal.
A segunda, a de que a eleição de Salazar significa a falência intelectual de uma parte do país. Se dúvidas houvesse, ficam dissipadas. Felizmente o país real não é um concurso de televisão e quando os portugueses vão a votos a sério a conclusão é outra.

8 comentários:

Anónimo disse...

¿Y no has pensado que es reflejo de cierta decepcion politica por parte de quienes votaron, que tal vez piensan que se vivia mejor en tiempos del señor Salazar?

Pedro BH disse...

Sim, pode ser isso. Mas é por isso mesmo que considero uma falência. Quando não se imaginam e criam soluções de futuro e se volta para trás em busca de uma segurança, mesmo a preço de uma ditadura, então é porque há uma falência das mentalidades e do sistema.

Anónimo disse...

Completamente de acuerdo. :)

Anónimo disse...

Disculpen que vuelva a comentar. Pero es que me quede pensando porque PBH estaba tan duro al criticar esta eleccion. Y me puse a buscar quienes fueron los otros dos personajes que nombra. Y la verdad... pues no entiendo como lo hicieron. O sea, juntaron a un dictador fascista como Salazar, a un líder comunista como Cunhal, y a Aristides de Sousa Mendes que ayudó en su llegada a Portugal a miles de judíos perseguidos por la Alemania nazi, en contra de las órdenes del propio Salazar. Se necesita mucha ignorancia para poner semejante mezcla en una misma linea. Es como si en Chile pusieramos a Pinochet, Miguel Enriquez y a Gabriela Mistral, que son equivalentes historicos a la lista de uds.

¿A esta lista de personajes pusieron por sobre mi querido Vasco da Gama? Meu caro PBH, creo que tendras que dictar algunas clases de historia en Portugal.

Pero ve el lado positivo: menos mal que no eligieron a Carlota Joaquina :)

Anónimo disse...

Neste programa televisivo, muito vocacionado para o entretenimento mas também para alguma divulgação e debate, ficou em 1º lugar o Prof. Oliveira Salazar. Com 41 % de mais de 210 mil votos. Apesar de tudo, não devemos ser alarmistas nem ficar excessivamente receosos no que diz respeito a um crescimento das preferências por experiências políticas não democráticas (nunca é descabido sublinhar que o Estado Novo não é sinónimo de Fascismo! É historicamente pouco rigoroso e politicamente não muito sério insistir nessa ideia, o que não retira o carácter ditatorial do Salazarismo, como é inegável).
O voto em Salazar foi uma miscelânea certamente. Entre partidários de regimes autoritários e ditatoriais, mas sobretudo de pessoas que não queriam que Cunhal vencesse e dos descontentes com a política contemporânea, não unicamente com o actual governo mas com a política e a situação actuais de uma forma geral.
Como já foi dito o esquema de votação não foi cientificamente rigoroso, verificou-se a tendência generalizada (não só no programa português) por votações em personalidades do séc. XX, por estarem mais próximos no tempo naturalmente, secundarizando épocas e "personagens" mais recuadas.

O ensino do Estado Novo nas escolas portuguesas ou é dado de uma forma muito superficial e pouco aprofundada ou é abordado de uma forma completamente tendenciosa e maniqueísta: de um lado os maus fascistas e do outro os resistentes e combatentes pela Liberdade! Ora quer uma ideia quer outra ficam a dever bastante à verdade, isenção e rigor históricos. O Estado Novo, como já referi não é o mesmo do que fascismo em Portugal, foi uma ditatura corporativista, foi um regime conduzido por um ditador, que aliás não tinha só defeitos, mas desprezava efectivamente a democracia e o liberalismo(sobretudo aquele que tinha experimentado na Iª República). Reforça esta ideia a existência de uma força política, se em rigor assim se pode apelidar, denominada "Camisas Azuis" liderada por Rolão Preto que foi a face visível do nacional-sindicalismo enquanto expressão do fascismo em Portugal (aliás fisicamente muito semelhante a Adolf Hither...). No grupo dos "bons" inclui-se geralmente o PCP e Álvaro Cunhal, que tinha como projecto político a substituição da ditadura de contornos salazaristas/marcelistas por uma outra de silhueta... bolchevique! Ora que ideia de democracia tinha (e tem) o PCP...

Mais uma vez graves problemas na Educação que acabam, de uma forma ou de outra, por afectar e condicionar gravemente o País. Desta vez é o efeito de uma visão distorcida, redutora e a preto e branco de uma época histórica que teve uma palete de cores tão diversificada como qualquer outra.
O resultado não é a apologia do fascismo, como gritou Odete Santos em estúdio, é um aviso e uma lição aos pseudo-democratas actuais, incluindo a própria mas a muitos outros...

Anónimo disse...

ASD, perdon si dije que Salazar fue fascista, simplemente asi encontre como calificaron en España su regimen en comparacion con los demas personajes nombrados en esta encuesta.

Gracias en todo caso por la aclaracion :)

Pedro BH disse...

Caro ASD

O comentário é claro e honesto!
Permita-me contudo discordar em duas ou três questões.
A palete é naturalmente diversificada, nem de outra maneira poderia ser. Concordo com o seu juízo sobre o ensino da História em Portugal, contudo, e para sermos rigorosos, há que clarificar que o movimento de Rolão Preto é anterior ao Estado Novo. O Estado Novo erige-se a partir de inúmeras facções políticas dando origem a uma plataforma comum, a União Nacional. O movimento de Rolão Preto integrou-se naturalmente nesta unidade, tal como o fizeram monárquicos, republicanos, sindicalistas, liberais, corporativistas e outros que tais.
Se chamo a atenção para isto é apenas para dizer que a União nacional integrava nos seus quadros muita gente de convicção fascista. O Estado Novo, ainda que se constituisse como um regime corporativista não deixou de ter inspiração e laivos fascizantes nas suas práticas e na sua concepção da política e da estrutura organizacional do poder.

Outra questão que gostaria de clarificar, é que do «lado dos bons» como o meu amigo se refere aos opositores do Estado Novo na visão maniqueísta da história, não estavam só os membros do PCP ou os amigos de Álvaro Cunhal, estavam também muitos liberais, muitos socialistas, muitos monárquicos , muitos republicanos e muitos conservadores; democratas que nunca se identificaram com o regime e que durante décadas lutaram para devolver ao seu país um regime democrático,livre de qualquer tipo de ditaduras, fossem elas de esquerda ou de direita.

Anónimo disse...

Numa coisa, meu caro PBH, estamos certamente de acordo, Salazarismo é uma coisa e Fascismo outra. Que ambos renegavam a democracia e o liberalismo é certo e sabido (sobretudo o "formato" que viveram na Iª República volto a repetir).
Agora que têm ainda outros pontos em comum têm. Que têm raízes distintas também é igualmente verdade. Bem como formas de agir, de acção política, concepção da sociedade, etc. As origens do Nacional-Sindicalismo em Portugal são anteriores ao Estado Novo, no entanto o grupo político de Rolão Preto chegou a coabitar com o Estado Novo de Salazar e a sua União Nacional (UN). E essa coabitação foi bastante tensa, acabando por ser tornado ilegal. Acontece que houve várias facções no grupo fascista de Rolão Preto, sendo que uma delas aderiu à UN, não tendo havido propriamente uma adesão dos "Camisas Azuis" à UN. Estas questões nunca são simples... Eram mais os motivos de afastamento e conflito entre os fascistas ou nacional-sindicalistas e os partidários do Salazarismo. Em 1934 o governo coloca os fascistas perante a obrigatoriedade de integração no regime, sendo que muitos deles aderem a outras instituições que não a UN. O Prof. António Costa Pinto aborda esta e outras questões num aprofundado estudo publicado pela Estampa intitulado "Os Camisas Azuis. Ideologia, Elites e Movimentos Fascistas em Portugal (1914-1945)".

Quanto ao "lado dos bons", referi apenas que se costuma incluir o PCP e Cunhal, sendo naturalmente de assinalar que o combate ao regime salazarista/marcelista foi travado por muita gente, de esquerda e de direita, democratas e não democratas.