
Tenho de confessar que também eu fiquei surpreendido. Mas ao contrário do meu amigo PBH, pela negativa.
CR não tem manifestamente qualidades de liderança, e isso ficou bem patente ao longo deste ano e meio em que liderou a Câmara. Desde cedo, aliás ainda antes das eleições, CR cedeu inúmeras vezes às ordens de Marques Mendes, tendo de recuar naquilo que eram as suas intenções. Relembro aqui o episódio com o partido da Nova Democracia: CR tinha fechado um acordo com Manuel Monteiro, que passava pela inclusão de Jorge Ferreira nas listas do PSD para a Assembleia Municipal. MM não gostou nem autorizou e CR teve de dar o dito por não dito, prometendo então à Nova Democracia um lugar nas empresas municipais. Tudo isto foi devidamante publicado na imprensa e foi o 1º caso que envolveu CR.
No que concerne à composição das listas, nomeadamente para a CML, foi a mesma coisa, chegando-se posteriormente a uma divisão 4-4 nos primeiros lugares.
Já no decorrer do mandato, CR, contra a sua vontade, aceitou imposições e vetos de nomes por parte de Marques Mendes na constituição de diversas equipas municipais. Foi incapaz de lutar para manter uma coligação que lhe era essencial para garantir a governabilidade da Câmara, e que certos sectores do PSD, liderados por Paula Teixeira da Cruz, não descansaram enquanto não a romperam.
O discurso é pois surpreendente na medida em que rompe com uma atitude de subserviência que se vinha registando há muito.
Esse aceitar das imposições de MM teve ainda 2 actos não muito distantes: as suspensões de mandato de Gabriela Seara e Fontão de Carvalho. Ambas contra a vontade de Carmona, ambas por exigência de Mendes. Nesta medida, surpreende pela incoerência o discurso de CR. Os seus colaboradores tiveram de suspender os mandatos, ainda que contra a vontade de CR que teve de se conformar, mas quando toca ao próprio a postura já é outra? Com que coerência? com que autoridade?
Há muito que CR deveria ter batido o pé à DN do PSD, e nas poucas vezes em que o fez, acabou por ter de recuar, dizendo o contrário do que tinha afirmado na véspera. Fazer um discurso destes depois de tudo o que se passou, é patético. É querer mostrar uma liderança que nunca teve, é querer mostrar uma autoridade que nunca exerceu.
Eu não sou adepto do "é arguído, tem que suspender". Mas CR aceitou desde sempre essa regra, aliás sabia que era uma das bandeiras de MM no PSD. Deixou mesmo que a aplicassem a 2 colaboradores seus. Se CR discordava desta postura, devia tê-lo afirmado em tempo oportuno, e não quando o problema lhe bateu à porta!
Olhando para isto tudo, vem-me à memória um provérbio: "quem com ferros mata, com ferros morre".
E Carmona morreu, às mãos daqueles a quem se aliou para conseguir o lugar que ocupa. Este foi o seu último grito...