27 janeiro 2007

Por fim...


Na mesma semana em que o IPPAR decidiu conceder 150.ooo Eur. (30 mil continhos) para a recuperação do Convento de Jesus em Setúbal, obra notável do manuelino da autoria de Boitaca, e que está a cair há decadas, necessitando de obras estruturais quer no interior, quer no exterior do edifício; e em que o Secretário de Estado da Cultura garantiu finalmente que o Teatro Nacional de S. Carlos e a Companhia Nacional de Bailado vão ter direcções artísticas distintas ( o que parecia lógico aos olhos de todos), eis que a Ministra da Cultura lança a primeira pedra para a construção do Museu de Vale do Côa. Esperámos dez anos, mas lá decidiram arrancar com a obra...

O Parque Arqueológico do Vale do Côa é o mais importante conjunto de figurações paleolíticas até hoje conhecidas no mundo. Em 1995, em reconhecimento do interesse patrimonial e cultural de todo este conjunto de achados, foi decidido criar na região o Parque Arqueológico do Vale do Côa. Esta decisão foi tomada na sequência de um debate público, nacional e internacional, que culminou com a decisão das autoridades portuguesas de suspender as obras da barragem em construção no local. A classificação dos núcleos de gravuras rupestres como Património da Humanidade, pela Unesco, em Dezembro de 1998, foi o culminar de um processo que marcaria indelevelmente em Portugal o estatuto da Arte Rupestre, da arqueologia e do património cultural.
A criação de um museu, ideia desde logo defendida por muitos, por permitir não só a exposição, mas o estudo em condições condignas e acessiveis a investigadores nacionais e internacionais deste património único, recebe agora um impulso definitivo, com a adjudicação da obra, que se prevê esteja terminada em 2008.
O Museu, para além de ser um pólo cultural de inegável valor, vai permitir o desenvolvimento turistico de toda aquela região do Vale do Côa, que abrange dez concelhos da Guarda e de Bragança. Assim saibam aproveitar a oportunidade!
Dez anos depois o Museu...Quem espera desespera...mas sempre alcança!

7 comentários:

Carlos Sério disse...

Arrancar com a obra? Conheço "obras" que tiveram três lançamentos da primeira pedra, em locais diferentes e que ainda hoje agurdam a sua construção!

Diogo Ribeiro Santos disse...

Ou seja, torna-se irreversível a asneira de não construir a barragem de Foz Côa. Repito: é uma decisão irresponsável prescindir de um recurso tão precioso como aquela barragem, em um país que apenas aproveita 42% do seu potencial hídrico. Em um país que importou em 2006 cerca de 62% da energia eléctrica que consumiu...
As gravuras são património da Humanidade, dir-me-ão. Sim, mas desse património a Portugal cabem os custos de conservação (incluindo o custo da construção da barragem e o custo das soluções alternativas) e à restante Humanidade apenas o proveito. Aliás, pouco tem aproveitado a Humanidade, pelo desprezo absoluto a que votou as gravuras nos últimos 10 anos!
Mas, dir-me-ão, há alternativas à barragem. Construam outras, aposte-se na energia eólica e na solar. Construa-se a tão falada central nuclear. Tudo isto está muito certo e tem o meu apoio. Mas tudo isto tem limites: a potência instalada em energia eólica não pode ir além dos 4800 MW e em energia solar além dos 750 MW. Em conjunto, produzem cerca de 12 a 13% da energia necessária (50 TW/h por ano). A central nuclear? Já devia estar construída (ou 2 ou 3), mas não me parece que alguma vez veja a luz do dia.
Portugal não pode dar-se ao luxo de desperdiçar recursos. É claro que as gravuras devem ser preservadas - o que não significa que não possam ser removidas. É certo que já lá estavam antes de sequer existirem Portugueses - mas agora Portugueses e gravuras têm de coexistir. Temos de encontrar um ponto de equilíbrio.

Anónimo disse...

Meu caro DRS, muito bem observado!

E quanto à central nuclear, venha ela, rapidamente e em força...

Anónimo disse...

No iba a opinar en este post porque no conozco la zona, pero DRS, tu comentario no me dejo indiferente. Tu forma de pensar en Chile tiene mucho exito. Necesitamos energia de gas, asi que destruyeron tres centros arqueologicos. ¿Que necesitan tubos? Y vamos destruyendo los petroglifos. ¿Hidroelectrica? Destruyamos uno de los bosques mas antiguos del planeta. Cierto, mucha humanidad no va a visitar Vale do Coa, a Dios gracias, porque mucha humanidad no tiene el menor respeto por los tesoros arqueologicos. Pero eso no significa que no debe ser protegido. Y me molestaria que se perdiera ese tesoro que es mio, porque es patrimonio de la humanidad, solo porque el Estado portugues no cumple con su deber. Ya bastantes tesoros arqueologicos se pierden por culpa de gobiernos negligentes.

Es cierto que hay que preocuparse de las cosas practicas como la energia electrica, considerando que gastamos mas de lo que se produce, sobre todo Europa. Precisamente apuntas a una cosa sumamente interesante. Recursos, la administracion de los recursos. Por eso me llamo la atencion tu comentario, por el asunto del presupuesto portugues. Y por lo que escribes parece que tienen un pequeño problema de no administrarlos adecuadamente. Es evidente que ante la necesidad energetica, proteger unas rocas suena muy fuera de lugar. Pero ¿acaso Portugal no desperdicia mucho mas recursos en cosas mas inutiles, como el ejercito, por ejemplo? ¿No se construiria muchas mas centrales eolicas, que son limpias, no invasibas con el ambiente, y dado el cambio climatico, mucho mas acertadas que las hidraulicas, con lo que se gastan con los militares? No tengo nada contra las hidraulicas, salvo el hecho que en sequia no sirven (y se vienen periodos de sequia cada vez mas largos), destruyen el ecosistema y son feas. Y energia nuclear... si, claro, mientras sus desperdicios los boten en Portugal, porque si siguen pasando por el Cabo de Hornos, para ir a tirar los desperdicios a quien sabe que pais de Asia que los compra a costa de matar sus tierras y su gente, juro que secuestro un barco y me pongo en medio. A ver quien me saca. Y de paso protego las ballenas.

DRS, me parece que un museo no va a arruinar al Estado portugues, me parece que estas enfocando mal el problema. Creo que el Estado portugues esta evadiendo el problema de hacer una gran reforma de su aparato estatal. Igual que Chile, que andamos por las mismas. Creo que sacando a unos cuantos inutiles, formando un congreso unicameral con menos partidos politicos (de los que nunca he sabido muy bien su utilidad y no quiero que me la expliquen), reduciendo carteras ministeriales, obligando a las grandes industrias y fortunas a pagar los impuestos que realmente deben pagar, en vez de cargarle todo a la clase media... si, creo que pueden tener mas dinero para proteger sus recursos culturales y ademas para mejorar su infraestructura energetica.

Pedro BH disse...

Decisão irresponsável seria destruir o maior conjunto mundial de gravuras rupestres conhecido até hoje para construir uma barragem!
Parece-me que o meu caro DRS apresentou inúmeras alternativas à construção da barragem.Não compreendo a insistencia, visto sobretudo que a decisão está tomada.E bem!
O facto de Foz Côa ser património da humanidade, não significa que a humanidade tenha de pagar os custos da sua conservação. Onde foi buscar essa ideia peregrina? Se Foz Côa é património da humanidade é porque antes disso já o Estado português o tinha classificado como património nacional.
Já agora, porque esse limites à produção de energia eólica ou solar?
Construam-se mais barragens, noutros sitios, implementem mais parques eólicos, tornem obrigatória a utilização e instalação de painéis solares. Há tanto por fazer....
Exactamente porque portugueses e gravuras têm de coexistir, é que se tomou a decisão de parar a construção da barragem.

Anónimo disse...

Não me alongo na exposição sobre o carácter e importância real e estratégica do Património Cultural, incluindo naturalmente o conjunto de gravuras paleolíticas do Vale do Côa. É consensual o seu valor cultural. Inegável para aqueles que possuem um mínimo de sensibilidade, conhecimento e informação, cultura geral que são bens culturais a preservar e a valorizar. Só isso bastaria... mas ainda há a hipótese (infelizmente até hoje não tem passado disso mesmo) de ser um pólo dinamizador da economia, sobretudo local e regional num interior "desquecido e ostracizado", ao ser desenvolvido com pés e cabeça (e já agora tronco e membros também)um programa de turismo cultural. Espera-se que ao início da construção do museu se siga um meio e um fim. Só aí arranca a vida do museu, quando começar a estar ao serviço dos vários públicos. Que este seja um espaço cultural dotado de todos os recursos humanos e materiais suficientes para ser possível a sua missão e objectivos serem atingidos. Repito, que este conjunto (gravuras, paisagem natural, estruturas culturais e turísticas associadas) seja uma mais valia cultural e sócio-económica. Todos os problemas do interior, seja transmontano, seja beirão, seja alentejano não se resolvem exclusivamente com turismo, nem com turismo cultural em concreto. Mas é uma área por explorar e que permite integrar, articular e dinamizar as vertentes cultural e económica. Se na prática a cultura passar a ser vista como um sector estrutural e estruturante e os gestos políticos forem mais consequentes serão as populações as primeiras a ter benefícios de vária ordem, a experimentar uma qualidade de vida certamente melhorada.

Claro que este mesmo bem-estar estará igualmente ligado a infra-estruturas industriais, designadamente aquelas que gerem emprego e produzam energia, entre outros produtos e bens. Mas não será conciliável? Progresso não tem de, nem deve, implicar atraso cultural e civilizacional. Nem defesa dos valores culturais tem de obrigatoriamente significar retrocesso económico. Não é assim meus caros DRS e RMG? Por curiosidade.. conhecem a região? Já visitaram algum núcleo do parque arqueológico?

Desenvolvimento sustentado, em que valores culturais, ambientais e económicos funcionam integrada e articuladamente, sem se anularem mutuamente. Antecipo uma pergunta, se é assim tão bom por que é que se pratica tão pouco? Falta de visão estratégica no médio e no longo prazo é a resposta mais provável. Conjugada com a deficiente ordenação de prioridades e medidas consequentes (ou ausência delas) tem conduzido ao estado da arte actual. E já agora menos radicalismos...da parte de ferverosos ecologistas e da parte de inveterados "materialistas".
Em termos energéticos, que se explorem racionalmente as energias renováveis, que se estude seria e credivelmente a questão nuclear, que se aumente a produção de energia eléctrica, e se para isso as opções passarem pela construção de mais barragens que se façam mas sem esquecer que "as gravuras não sabem nadar". A decisão está tomada e bem como diz PBH. Ocorre-me agora... como está o processo de indemnização à EDP? Como investiu a EDP a verba em questão? 20 milhões de contos não foi?

Não haverá outras alternativas razoáveis e possíveis? Há certamente... Basta visão e vontade para que haja.

Anónimo disse...

Caro PBH, solo una aclaracion a su post, con el que concuerdo (algo obvio): si la zona es patrimonio de la Humanidad, la UNESCO aporta fondos para su preservacion. Por ende, la Humanidad sí aporta fondos para preservar el Vale do Coa, desde 1998. O sea, hay dinero chileno, y de todos los paises miembros de la UNESCO (salvo los que hayan hecho reservas, que no faltan), destinado para preservar esas rocas prehistoricas, unicas en el mundo. (Capitulo IV Convencion sobre la protección del patrimonio mundial, cultural y natural, Paris, 21 de noviembre de 1972) Te lo aclaro porque seria interesante, dado el post de Ruy, saber de cuanto es el fondo destinado a Coa y que se ha hecho con el. Y porque al ser patrimonio de la humanidad, la humanidad si tiene el deber de protegerlos, y un medio es entregar fondos para su preservacion. No es una idea peregrina, recuerda la polemica de los Budas de Afganistan. Por supuesto, el Estado portugues aporta la mayor parte para su cuidado, pero eso es lo minimo que que exige de el. El deber principal de Portugal es proteger ese bien del que puede usufructuar, mediante el turismo controlado, pero ¡NO PUEDE DESTRUIR, INUNDAR Y MENOS TRASLADAR ALGO QUE NO ES SOLO PORTUGUES, ES DE TODOS LOS SERES HUMANOS! Por ultimo, el Estado portugues, en su presentacion del caso ante la UNESCO, se comprometio internacionalmente a construir un museo. Sera interesante saber como el señor Carrilho va a explicar a la UNESCO porque no se ha hecho nada hasta ahora. Pacta sunt servanda :)

ASD, diste en el clavo: el asunto energetico es un tema de vision estrategica a mediano y largo plazo. Concuerdo plenamente con tu post.