24 janeiro 2007

O caminho para a Índia...

Parabéns ao Senhor Presidente da República pelo êxito da viagem de Estado à Índia.
Parece que correu tudo bem e não houve incidentes de maior, exceptuando aqueles protagonizados pelas declarações do Secretário de Estado da Cooperação, João Gomes Cravinho, a que infelizmente já nos vamos habituando.
Os contactos políticos foram bons e decorreram de forma salutar, o Presidente recebeu um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Goa, o que não deixa de ser significativo, apesar dos protestos dos nacionalistas, sendo que foi o primeiro atribuido por esta universidade indiana. Assinou-se igualmente um Acordo para a extradição judicial entre os dois Estados, o que facilita importantes tramites legais. Culturalmente as prestações foram interessantes, sobretudo a da fadista Kátia Guerreiro que obteve enorme êxito nas suas actuações em Goa, mas também em Nova Delhi, assim como a exposição promovida entre a Presidência e a Gulbenkian apresentada na capital do país. Assinou-se um Acordo Cultural, pela mão da Presidente do Instituto Camões, o que é sempre de louvar, apesar do Centro Cultural Português na Índia sofrer das mesmas primárias carências financeiras e de pessoal de todos os outros centros culturais espalhados pelo mundo. A ver vamos...
Mas a grande atenção da viagem foi dedicada à economia e não à política. Prova disso foi a quantidade de empresários de topo que acompanharam Cavaco Silva. O Presidente pôde fazer o discurso inaugural do importante encontro económico internacional " The Partnership Summit 2007" organizado pela Confederação da Indústria Indiana, manter variadissimos contactos com os empresários locais e visitar empresas de alta tecnologia em Bangalore.
Tudo parece ter corrido bem, contudo, esta viagem não dissipou, antes acentuou duas dúvidas que tenho relativas à politica externa portuguesa. Em primeiro lugar não compreendo a insistência que os memorandos dos nossos diplomatas fazem, e que transparece depois nos discursos dos nossos políticos, de que Portugal tem um papel fundamental na ligação do resto do mundo a África e ao Brasil. Cabe na cabeça de alguém ir dizer na Índia que Portugal é uma porta de entrada para os mercados brasileiros e africanos? Acaso precisará a Índia de Portugal para entrar com as suas empresas e tecnologia nesses países? Não se compreende. É um discurso tão calcinado como é, infelizmente, a visão de muitos dos nossos diplomatas que não saem dos gabinetes. Promovam-se as parcerias, promovam-se os produtos, promovam-se as iniciativas e o investimento, reforme-se urgentemente o ICEP, mas não promovam ideias antigas, que os indianos sabem por experiência própria não corresponder à verdade e que não podem naturalmente levar a sério.
Em segundo lugar, continuo sem compreender as razões que levam Cavaco Silva a não eleger um país de Língua Portuguesa para fazer uma visita de Estado. Critiquei a escolha da primeira visita e não posso deixar de lamentar a segunda. Para quando uma visita a um país lusófono?
Depois querem que o mundo acredite que somos os senhores " ...d' aqui e d'além mar,conquista, navegação e comércio da Etiópia, Pérsia e Arábia..."
Pois sim!

20 comentários:

Diogo Ribeiro Santos disse...

Vejo (ou melhor) leio com gosto que o meu caro PBH voltou, após ter "descarrilhado", à senda dos bons posts. Subscrevo a lúcida apreciação que faz da visita, ressalvada a parte final.

Caro PBH,

Será que os nossos diplomatas estão assim tão enganados ao defender que Portugal é porta de entrada na África e no Brasil? Penso que não. E não estão igualmente enganados o Sr. Presidente da República, que apadrinha a ideia, ou o Prof. Ernâni Lopes, que ouvi ontem a defender a mesma tese. A nossa ligação (cultural, política e económica) ao mundo lusófono torna-nos um parceiro cultural apetecível (e apetecido) para contactos com a África e o Brasil. Ao meu caro amigo PBH, tão atento e sensível a estes temas da lusofonia, não escapou certamente a importância de falarmos um idioma que é língua oficial nos cinco continentes. Por isso, caro amigo, vamos despertar, de uma vez por todas, para esse activo cultural, económico e político que é a nossa ligação à lusofonia e aprender a fazer negócio com isso. Caso contrário, a ditosa pátria nossa amada não vai ter grande lugar no futuro.

Anónimo disse...

DRS, lo que ocurre con PBH es que cuando se trata de defender la cultura portuguesa se apasiona, y cuando no ve esa misma pasion en los ministros del ramo, pasados o presentes, se molesta y los detesta per omnia secula seculorum, y salen post como el anterior o los muy acertados sobre la actual ministra, cuya inaccion pude ver en directo.

Perdona PBH que opine en este caso y que me dirija a DRS. Caro DRS, ten cuidado con el asunto de la "lusofonia". PBH tiene razon, India no necesita a Portugal, ni tampoco Brasil. Ambos paises, sobre todo Brasil, son mercados apetecibles sin necesidad que Portugal los apoye. Lo se porque las excelentes relaciones que tenemos los chilenos con China se deben a las excelentes relaciones que tenemos con Brasil y la triangulacion de mercancias que se produce teniendo a Chile como nexo. Y hablamos diferentes idiomas. ¿Donde esta el punto de union? En tener intereses comerciales comunes que solo son ventajosos en esa triangulacion. Y creo que PBH apunta muy bien a eso. Si Portugal tiene intencion de transformarse en un nexo de union entre diferentes paises debera previamente hacer una revision seria sobre su politica exterior, y si PBH no se ha equivocado ni en este ni en post anteriores, creo que Portugal tiene tareas pendientes que hacer antes de embarcarse en semejante aventura. ¿O acaso te gustaria que le pasara a Portugal lo que ocurre con España, que tuvo un efimero exito tratando de ser cabeza de paises hispanoparlantes y que en el momento concreto de mostrar su real fortaleza, que ha sido el caso Repsol en Bolivia, se desinflo porque su politica exterior era de corto plazo? Y apunta esto, DRS, porque me parece que Portugal lo considera una ventaja y en realidad es un arma de doble filo: su pertenencia a la UE, que por un lado puede suplir el hecho que Portugal no es un mercado atractivo, por su reducida poblacion en comparacion a Francia (por ejemplo), pero al mismo tiempo la UE no goza de muchas simpatias en las areas que precisamente apuntas en tu comentario. Cuidado con como se usa a la UE, sobre todo en la India y Brasil.

Si Portugal pretende tener un actuar comercial, cultural, incluso politico con paises de la zona africana, Brasil y la India, tendra que lidiar con los intereses opuestos de esos paises y los de la UE. Y tendra que ofrecer ventajas, basadas en una politica exterior de largo plazo, lo que significa que los beneficios de la relacion que establezca con esos paises no se veran inmediatamente. Y, aunque parezca un tema menor: tendra que comprender muy bien el concepto de "soberania" y "libre autodeterminacion" de los paises con los que va a relacionarse, para no encontrarse con sorpresas desagradables.

Anónimo disse...

Pensei que jamais comentaria neste blog...!
Admiro os Bloguistas e os seus habituais comentadores desde sempre e até... ontém!
Fiquei profundamente chocado com o que se passou e gostava de ver continuar a ser salvaguardada o respeito e educação que sempre, e volto a dizer, até ontém, foi demosntrada por todos e que foi profundamente abalada!
"Tudo pode ser discutido"! Não se pode é discutir com tudo... muito menos com falta de educação
Peço desculpa por este comentário mas não me sentiria bem sem o escrever!
Muito obrigado pelo bom trabalho.

Diogo Ribeiro Santos disse...

Marcela,

Agradeço o seu comentário, mas peço-lhe que atente nas minhas palavras: digo que o elo de Portugal aos países lusófonos torna Portugal apetecível como parceiro para contactos com os países lusófonos. Não se trata de apoio português a esses países - que passam bem sem isso - e sim de facilitar contactos. É uma situação semelhante à que Espanha tem com a América Latina de lingua espanhola - com a diferença de que a Espanha sabe potenciar e vender muito melhor esse seu activo.

Diogo Ribeiro Santos disse...

Caro Salvador,

Lamento (até pela parte que me possa tocar) esses beliscões ao respeito e à educação. Há males que vêm por bem - não houve excepção à regra. O eclipse sofrido pela educação e respeito devidos consegui provocar um comentário seu, que muito agradeço. Esperemos que lhe vá juntando outros.

Anónimo disse...

DRS, precisamente por la experiencia española en America Latina es que exprese mi opinion sobre este tema. Entendi perfectamente tu comentario, creo que no explique muy bien el mio. Creo, caro DRS, que deberias estudiar un par de dias como, comparado con la decada de los 90's, cada vez menos paises consideran a España un interlocutor interesante y ello se debe mucho a la pesima politica exterior española, que si bien supo usar en un corto plazo la union linguistica y cultural, no supo reforzarla de manera adecuada. En Bolivia Evo obtuvo apoyo para su nacionalizacion acusando a España de "neocolonialista", y ahi tienes un pequeño ejemplo de como la comunidad linguistica y cultural puede ser un arma de doble filo. Efectivamente, tenemos una misma lengua, pero intereses opuestos a los españoles. Fijate DRS que en la ONU la voz cantante americana es Mexico (Argentina no, por razones muy largas de exponer). La actitud de España y Argentina con el asunto del gas y como enfrenta a Brasil y Venezuela es un tema que te recomiendo que leas para que sepas que no debe hacer Portugal.

Ignoro la situacion de los paises africanos, PBH sabe mas del tema, pero Portugal debera tener mucho cuidado con sus relaciones en la India y Brasil, dos paises con nacionalismos muy fuertes, sobre todo en materia de recursos naturales, como me consta que es el caso de Brasil. La lengua es un buen punto de partida, pero no el unico. Eso es lo que queria aclararte con mi comentario.

Salvador, no entendi tu post, pero si te molesto el mio, me disculpo. No queria faltar el respeto a nadie

Anónimo disse...

DRS... que não lhe toque parte alguma porque não era de si que estava a falar... Bom, eu podia ter sido, de facto mais específico no comentário anterior mas não fui.
De si só tenho a dizer que muito tenho aprendido desde que comecei a ler o Blog.
O eu não querer comentar deve-se ao facto de eu não ser muito culto nas matérias aqui tratadas pelo que só me resta ler e aprender dos variados pontos de vista! Quer o DRS quer o RMG quer o PBH tem sido imprescindiveis na minha culturização e por isso vos agradeço!
Mais uma vez... desculpem o meu comentário à situação de ontem! Nunca tinha visto tanta exaltação direccionada à luta do "quem mandou a ultima boca a quem".

PSG disse...

Caro PBH

Concordando por inteiro com o post e acrescentando apenas a inovação cibernética da presidência da república ao disponibilizar no seu site o dia a dia da visita, pedia para se possível esclarecer em concreto o que entende por:

“Promovam-se as parcerias, promovam-se os produtos, promovam-se as iniciativas e o investimento, reforme-se urgentemente o ICEP, mas não promovam ideias antigas, que os indianos sabem por experiência própria não corresponder à verdade e que não podem naturalmente levar a sério.”

Ou seja, o que propõe em concreto para promover e reformar?


Caro Salvador

A sua opinião é muito apreciada neste blog, tal como a de qualquer leitor. Todos aqui aprendemos mais qualquer coisa uns com os outros.
Os post’s que publicamos por opção individual de cada um de nós, servem para expressar as nossas opiniões, mas sempre procurando moderação e bom senso.
Porquanto é feito para todos, sem excepção e censura, “a gazeta” não pode controlar o ímpeto e a liberdade crítica dos leitores.
Afinal, essa é a chama que dá vida a este, também seu blog.

Pedro BH disse...

Caros comentadores e "bloguers"
Muito agradeço as vossas palavras e antes de mais permitam-me que me desculpe publicamente por alguns excessos que possam ter originado a indignação de alguns e que não foram o meu propósito ao escrever o "post" anterior. Tenho procurado sempre manter com os comentadores deste blog a mais firme cortesia, ainda que muitas vezes a picardia, a ironia ou a simples discussão nem sempre sejam bem interpretadas ou me conduzam a alguma vivacidade indesejada.
E depois deste "mea culpa" vamos ao que interessa...

Aproveitadno os comentários do DRS, da Marcela Castro e do PSG, que desde já agradeço e porque vão todos no mesmo sentido, permitam-me que lhes responda por conjunto.

Sou um defensor antigo e permanente da Lusofonia, não como valor imaginário ou fantasmagórico de um passado histórico que queira de alguma forma ressuscitar, mas porque acredito firmemente que a lusofonia é um activo importantíssimo na capacitação da cultura, da economia, das relações politicas, dos valores civilizacionais, dos interesses estratégicos, do potencial diplomático e da construção de um espaço privilegiado de diálogo entre os diferentes países que falam português.
A Língua Portuguesa, é, só por si, o maior activo que poderemos ter enquanto cultura autónoma e singular.Se o Brasil ou países como Angola e Moçambique não falassem português, o nosso peso ou importância politica e diplomática era substancialmente menor, senão mesmo insignificante.
E atrás da Língua vem tudo o resto, a economia, as relações culturais, as relações diplomáticas privilegiadas e tudo mais.

Ora, para manter vivo este activo seria de capital importância que o Estado português olhasse para a Língua Portuguesa com olhos de ver.
Seria necessário uma real política cultural dirigida ao exterior onde os centros culturais, as escolas, as cátedras e os institutos de Língua e Cultura portuguesas directamente dependentes do Estado Português tivessem os meios, o pessoal e os recursos financeiros que são necessários para a presecussão desta grande empresa.
Nada disto infelizmente acontece. Não só não acontece, como não vejo nenhuma vontade que aconteça por parte da classe política e dirigente.
É curioso reparar como neste caso em concreto o discurso político e diplomáico de tão calcinado que está no desejo, mas não no querer real da administrção portuguesa, flui como se de uma ralidade concreta se tratasse.
É absurdo e é falso!

Que se promovam os contactos entre empresas, que se conjuguem interesses com vista aos investimentos em Portugal, ou em qualquer outra parte conjuntamente com empresas portuguesas parece-me muito bem. Mas que se fale no relevante papel junto dos PALOP's ou do Brasil parece-me um discurso antigo e disparatado. O Brasil não precisa de nós para nada, antes somos nós que precismaos do Brasil (olhe-se para a balança comercial entre os dois países). A Índia sabe por experiência própria que o papel de Portugal é muito reduzido nessa matéria, mesmo junto dos países africanos. Sabe-o porque conhece Portugal há 500 anos e sabe o valor que Portugal tem dado nos últimos 50 às suas relações "privilegiadas" com a Índia. Sabe-o porque é a sua elite comercial que negoceia praticamente toda a produção agricola em Moçambique, sabe-o porque têm relações privilegiadas com o Brasil, assim como quase todos os países dos antes denominados "não alinhados". A Índia não precisa de nós, mas nós precisamos da Índia se queremos de facto potenciar o nosso passado histórico.
Promover iniciativas, promover produtos, promover empresas e projectos, significa fazer da diplomacia económica uma realidade e não mais um desejo quimérico, como infelizmente tem acontecido.
Reformar o ICEP, senão mesmo extingui-lo e criar uma nova estrutura apta às exigências da economia global, significa que o ICEP não tem estado à altura da sua missão, recheado que está de gente pouco qualificada que faz do comércio externo um braço "coquette" da diplomacia da coisa nenhuma..
Para fazer é preciso querer, desejar só, não leva a lado nenhum.
O comentário vai muito longo e por aqui me fico.

Anónimo disse...

tal vez fue un comentario largo, pero me parece breve considerando la complejidad de lo que pretende el gobierno portugues. En menos de 10 post hemos planteado una serie de deficiencias que tiene la politica exterior portuguesa. Lo interesante seria saber si esta pensando en eso el gobierno portugues.

Anónimo disse...

Bravissimo PBH, tanto pela escrita como pelo denodo! A seu lado e de bandeira ao vento inteiramente. Parabéns.

Pedro BH disse...

Obrigado EPB pelas suas palavras. Afinal parece que tenho uma aliada de bandeira e tudo!
Lá diz o ditado...o que começa mal...
Cá estaremos!

Anónimo disse...

Em relação a este assunto dois comentários:

- Primeiro para me congratular pelo contributo dado para uma intensificação de relações entre Portugal e a Índia (potência emergente e mercado gigantesco). Sem no entanto deixar de realçar que este tipo de visitas de Estado deveria ser algo reformulado, necessitando os empresários portugueses de ter mais iniciativa e capacidade de arriscar (como aliás foi sublinhado pelo próprio PR), sem ser preciso estarem constantemente integrados em comitivas desta natureza e praticamente fazerem depender deste tipo de apoio a sua linha de acção e estratégia de internacionalização.

- Em segundo para me referir às questões da Cultura e da Lusofonia. Apesar de tudo a componente cultural poderia ter sido mais forte, mas não foi tão incipiente como alguns opinaram. Verificou-se o conjunto de eventos e realizações que mencionaste, foi envolvido o Instituto Camões (MNE), a Fundação C. Gulbenkian (privado), a ministra da cultura estava na comitiva... mas o que se passou de benéfico para a esfera de acção do MC? Presumo que alguma coisa, pois caso contrário não faria sentido a presença da titular da pasta... Ou a informação não passou, ou a comunicação social não cobriu devidamente a visita, ou falta de atenção minha? A pergunta não tem nada de retórico. Tenho efectivamente esta dúvida. Se alguém me puder esclarecer agradecia.

Concordo com o PBH quando refere que é algo obsoleta a ideia que contem o pressuposto que a Índia ou o Brasil por exemplo têm uma necessidade eminente da intermediação portuguesa para uma aproximação a vários níveis à Europa e aos seus mercados. Não significa isto, contudo, que a Língua Portuguesa, veículo por excelência de Cultura, não deva ter um carácter vital nas relações com o mundo lusófono. É sem dúvida um factor de aproximação com o qual devemos ser consequentes. Uma CPLP mais operacional, mais participada e interventiva é algo que se impõe. Sem paternalismos nem espírito neocolonial necessariamente. Não pode ser tida como uma organização acessória da actividade política de Portugal. É demasiado património e potencialidades de vária ordem que são desperdiçadas e secundarizadas se a visão e acção continuarem na mesma. Deve haver por um lado vontade política real e percepção estratégica não devendo haver por outro saudosismos, revivalismos nem pura poesia ou lirismos. Não basta acreditar que "A língua portuguesa é a minha pátria" e não virar essa ideia para acções concretas, para parcerias de moldes semelhantes aos que propõe o PBH, com a revitalização e reestruturação de organismos e organizações como o ICEP, a CPLP e o próprio IC.

Recordo-me que na campanha das eleições presidenciais se falou em Lusofonia, sem muita profundidade é certo. Urge um foco muito particular e enérgico em palavras actualizadas e em actos continuados e consequentes. Visitas de Estado a países de língua ofical portuguesa seriam um bom indício. Mas numa versão reformulada.

Anónimo disse...

"Parabéns ao Senhor Presidente da República pelo êxito da viagem de Estado à Índia."... falar em êxito quando o grande negócio que a viagem prometia (de parceria com a Infosys) não se chegou a conretizar parece-me um pouco exagerado... É certo que no geral correu bem mas... não tanto. Tal como me parece exagerada a referência ao "enorme êxito" que obeteve a Kátia Guerreiro a cantar para uns quantos convidados bem vestidos... êxito pessoal? Foi para isso que ela foi em representação da Cultura Nacional? E que representação...

Caro ASD, não lhe parece óbvio que neste tipo de viagens os resultados demoram tempo a aparecer e que portanto talvez devesse esperar para ver respondida a sua pergunta? A mim, o que me causa espanto, é que se tenha questionado com a presença da Ministra da Cultura numa viagem de promoção cultural e económica do nosso país (não o vi interrogar-se sobre a presença do Ministro da Economia e Inovação) mas não se tenha perguntado o que fazia na comitiva o deputado Nuno Melo? Foi aproveitar umas férias antes de se demitir? "A pergunta não tem nada de retórico. Tenho efectivamente esta dúvida. Se alguém me puder esclarecer agradecia."

Pedro BH disse...

Caro RM
A visita foi globalmente um êxito sim. Talvez nem todos os negócios previstos se concretizaram, mas muitos que não estavam agendados concerteza se realizarão.
Por alguma razão acompanharam o PR um grupo muito singular de admnistradores das mais diversas áreas. Entre outros, estiveram em representação cimeira o BES, o Millenium BCP,várias indústrias tecnológicas, as Fundações Gulbenkian e Champallimaud,para além de três membros do governo.
Claro está, que qualquer viagem de Estado do PR leva cosigo uma comitiva semelhante.Faz parte!
Mas a sua pergunta sobre a presença da Ministra da Cultura tem razão de ser. De facto talvez tenha sido ela a que lá foi fazer menos.
O programa cultural não se resumiu à presença e actuação da fadista Kátia Guerreiro, que por sinal, não deu um concerto para gente bem vestida como diz, mas que fez três actuaçãos, uma em Nova Delhi, e duas em Goa. Em Goa deu um concerto para as comitivas e outro ao vivo e em palco aberto para o povo de Goa. Devo também informá-lo que o êxito foi tal, que a artista chegou a vir 5 vezes ao palco, tal o entusiamso dos goeses pelo espetáculo.
Para além desta participação, houve também uma exposição inaugurada em Nova Delhi sobre Arte Contemporanea Portuguesa, numa parceria entre a Presidência e a Fundação Calouste Gulbenkian.
Para além desta, houve outra exposição, inaugurada em Goa, com um trabalho de fotografia de Graça Sarsfield, exposição essa que foi promovida pela Presidência da República.
Para finalizar, foi assinado um acordo cultural entre Portugal e a Índia, pela mão da Presidente do Instituto Camões, Simonetta Luz Afonso.
Para programa cultural não está mal, ou acha que está?
Mas a pergunta mantém-se e é legitima. Que foi lá fazer Isabel Pires de Lima? Visto que nenhuma destas iniciativas teve a chancela do Ministério da Cultura, não sei, nem lhe posso responder.
Por último devo informá-lo de que o PR quando se desloca em visitas de Estado leva sempre uma comitiva de deputados, em representação do Parlamento, sendo que vai um deputado por cada partido com representação parlamentar. O CDS/PP achou por bem enviar o deputado Nuno Mello. A decisão é de cada partido.

Anónimo disse...

A questao nao é o facto de nem todos os negócios previstos se realizarem ou de outros nao previstos se poderem vir a realizar... a questao é que o maior negócio que se pretendia realizar e que justificava por si só esta viagem, nao aconteceu nem acontecerá! E sob esse ponto de visto nao creio que se possa falar em êxito quando se fala desta viagem... Mas claro, como quando em derrotas eleitorais há sempre quem consiga chegar ao microfone e dizer que ganhou... esse tipo de leitura de resultados nao me espanta.

Agora, quanto ao resto do seu comentário, peço-lhe que leia, de novo e desta vez com atençao o que eu escrevi... Ou entao que reformule para quem dirige a sua resposta. Eu nao questionei a presença da Ministra da Cultura (quem o fez foi o ASD) portanto deduzo que essa parte do seu comentário nao era para mim. E eu, em parte nenhuma do que escrevi, me refiro â globalidade do programa cultural levado â Índia. Apenas me referi à escolha em particular da Kátia Guerreiro que efectivamente cantou para um comitiva de pessoas bem vestidas, num missa e num concerto público... e o êxito que lhe reclama e que atingiu nesse concerto público foi um êxito pessoal e nao da música portuguesa, porque para isso era preciso que ela a representasse. Portanto também essa parte do seu comentário deduzo que nao fosse para mim.

E quanto ao Sr. Nuno Melo (julgo que é apenas com um L...), nao lhe parece estranho que o partido, como refere, tenha decidido escolhê-lo a ele para ir nessa viagem, depois do seu próprio presidente lhe ter pedido que se demitisse do cargo de líder do grupo parlamentar? Das duas uma, ou a decisao nao foi assim tao alargada ao partido como julga, ou em conjunto, o partido achou por bem oferecer ao Sr. Nuno Melo umas últimas férias pelos grandes serviços prestados ao partido... isto mesmo depois do presidente do partido lhe ter pedido que se demitisse. Curioso nao?

Anónimo disse...

RM a minha questão não se prende com os resultados e com os respectivos prazos, mas com o que terá sido feito pela ministra da cultura para que haja a hipótese de surgir algum tipo de resultados. Como questiona PBH, que também não tem resposta à minha pergunta, quais as iniciativas que tiveram a chancela da titular da pasta da cultura? Não questiono a presença do ministro da cultura, neste caso ministra, numa viagem de Estado desta natureza, pergunto muito simplesmente quais foram as acções concretas que promoveu enquanto membro da comitiva e representante do governo português na área da cultura. Sem qualquer espécie de ironia e com toda a fraqueza desconheço quais foram.

Quanto ao deputado em concreto que o meu caro RM refere PBH já lhe deu a única resposta possível. A escolha do representante de cada partido com assento parlamentar a integrar a comitiva presidencial é da exclusiva responsabilidade de cada grupo precisamente. O deputado João Nuno Lacerda Teixeira de Melo continua a ser membro da bancada parlamentar do CDS/PP eleito pelo círculo de Braga.

Pedro BH disse...

Caro RM
A minha resposta era para si!
O PR não se desloca em visitas de Estado para fechar negócios em concreto. Até pode fazê-lo, mas não é essa a sua missão. Essa matéria compete ao governo. Para lhe responder a isso, talvez devesse formular a pergunta ao Ministro da Economia que estava presente na comitiva. Uma viagem de Estado tem uma dimensão política, diplomática, económica, e cultural. É por isso que o PR não vai sozinho. Ele é apenas a cabeça de uma representação mais vasta.
É talvez de salientar, que Cavaco Silva é o segundo PR português a visitar a Índia desde 1974, isto é, depois de Portugal e a Índia terem reatado as relações diplomáticas. Só por esse facto a viagem é digna de elogio. É de todo o interesse que Portugal estreite as suas relações com a Índia e esta visita é um passo significativo nessa matéria.

Não compreendo a sua admiração pela presença do deputado do CDS/PP em causa. Afinal ele ainda se mantém em funções, e até ao fim terá de cumprir com as suas obrigações. Aquilo que considera serem umas férias na Índia, provavelmente para o deputado não o são. Mas adiante...
Mais interessante seria perguntar o que lá foi fazer Isabel Pires de Lima, mas também nessa matéria, confesso que não me preocupa.
A Kátia Guerreiro não representa a música portuguesa?? Então representa o quê? A música chinesa? Essa agora...

Diogo Ribeiro Santos disse...

Caro ASD,

A quem ouviu o meu amigo defender que "a India e o Brasil têm uma necessidade eminente da intermediação portuguesa para uma aproximação a vários níveis da Europa e seus mercados"? Diga-me, sff, que se interna já o inimputável!

Caro Salvador,

obrigado pelas suas palavras.

Anónimo disse...

O meu caro DRS sabe bem que num certo discurso ofical verifica-se o reconhecimento da importância do património comum da língua portuguesa (e bem!), residindo o problema no empolamento que é feito na tentativa de transmitir a ideia que ela é fundamental enquanto ponte entre certos países, com os quais Potugal tem relações históricas, e que somos imprescindíveis para esse efeito. Ter uma função estratégica e uma grande importância não significa que seja a única "safa" que certos países, ainda para mais como a Índia ou o Brasil, têm para penetrarem na Europa e seus mercados. E por vezes parece que é essa a realidade... Coisas de doidos...O que me causa incómodo ainda maior é o facto de isso constar no discurso ofical com um exagero tal, e de certa forma paternalista, e o agir em conformidade, o ser consequente nos actos, o "vamos despertar, de uma vez por todas, para esse activo cultural, económico e político que é a nossa ligação à lusofonia e aprender a fazer negócio com isso." fica sempre em segundo plano. Neste (e noutros também)temos o dever de contrariar os doidos! Vejo que está disponível para esse combate! Só me posso congratular por isso.